Cadeias superlotadas (Foto: Arquivo)
Estou longe do humanismo do ex-secretário de Segurança Pública, Roberto Monteiro, que não queria que os criminosos presos tivessem suas imagens expostas nas páginas de jornais nem no vídeo das televisões. Acho até que o ex-secretário tinha razão, em tese, porque nada contribui para a sociedade a exibição do mal. O mal precisa de educação, do exemplo dos bons, para se corrigir e passar a imitar os bons.
Mas a realidade é outra. Nem os bons dão exemplos assim tão bons, nem os maus se corrigem submetidos à pedagogia das leis viciadas e dos presídios ociosos e promíscuos que envergonham o sistema penitenciário brasileiro. A sociedade que teme com razão os criminosos, em vez de lamentá-los e torcer pela sua recuperação, odeia-os cada vez mais e gostaria de vê-los torturados e mortos como fizeram com suas vítimas.
Nem tanto ao mar, nem tanto à terra, o equilíbrio é o melhor conselheiro do bom senso. Nada de penas capitais, nem de punições extremas. A função da medicina não é matar o doente, mas curar a doença. A criatura não é má na sua natureza intrínseca, como não está na natureza da pessoa a enfermidade. Saúde é um estado natural. Doença é uma anormalidade. Logo, o criminoso é
alguém doente, alguém que por diversos fatores desviou-se para um estado de anormalidade. E como Deus não é contra o pecador, mas contra o pecado, nós também não somos contra o criminoso, mas contra o crime.
Se para a cura do enfermo, a medicina usa a cirurgia e o remédio, isso é um indicativo de que devemos usar também o remédio da educação, a cirurgia da transformação moral para tentar curar o criminoso. Matá-lo também como ele matou não resolve. O crime pelo crime não é solução para coisa nenhuma. Só agrava a violência e impede a paz da sociedade. Os criminosos devem ser segregados, por tempo justo, em ambientes adequados onde tenham como
responder por seus crimes. Mas ao mesmo tempo precisam ser tratados pela educação para a restituição da sua saúde moral.
Da mesma forma que os tempos modernos não aceitam a educação da criança pela palmatória, pela gritaria nem pela humilhação, não recomendam também a punição extrema e desumana do criminoso. Quando o Estado, a sociedade e as instituições adotarem a educação como imunização preventiva contra as epidemias dos vícios, dos fungos morais que atormentam o homem, o crime começará a ceder, como as pestes vão sendo superadas pela ação preventiva da higiene e das vacinas. Essa é a segurança pública mais eficaz.

Wanderley Pereira é jornalista da TV Jangadeiro