Falta consciência sanitária para combater a dengue
8/1/2011
Gestores acreditam na ação conjunta dos setores governamentais para o combate a doença no EstadoEm meio a uma possível epidemia de dengue para o ano corrente, prevista pelo Ministério da Saúde (MS), que classificou o Ceará entre as dez unidades da federação com o risco ´Muito Alto´, o coordenador de Promoção e Proteção à Saúde da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), Manoel Fonseca, afirma que o maior desafio a ser enfrentado é com relação a formação de consciência sanitária da população, e a captação de recursos financeiros para as campanhas de combate.
"Precisamos de dinheiro, pois os municípios são pobres, além disso temos que trabalhar com pessoas que ainda não possuem uma consciência sanitária, ou seja, que precisam proteger o meio ambiente para poder se proteger".
O coordenador explicou que a verba que as cidades recebem é considerada insuficiente, isso porque, não são destinadas apenas para a campanha em si, mas tem que servir também para pagar agentes de endemias, gasolina, supervisores, produção de material educativo, entre outras despesas. "Se o novo ministro não defender um recurso extra vamos ter sérias dificuldades nessa luta".
Compartilha da mesma visão de Fonseca, o titular da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Alex Mont´Alverne, que por diversas vezes ressaltou essa problemática, "o recurso continuará em cerca de R$ 1 milhão. É insuficiente e pode complicar a campanha. Significa um terço do total das despesas dessa área. Só com a folha de salários e encargos gasta-se R$ 2.4 milhões. Sem contar com o salário de outros profissionais".
Para contornar essas dificuldades ele disse que as ações deste ano serão intersetoriais, ou seja, envolverão secretarias do Meio Ambiente, Educação, além da Saúde, e outras que compõem a estrutura governamental.
"Daremos todo o suporte necessários aos municípios, mas é responsabilidade desses chamarem os seus parceiros a responsabilidade. A Sesa desenvolve diversas ações de mobilização com o objetivo de despertar na população atitudes de prevenção à dengue. Uma das mais novas ações é com a educação. No próximo período letivo de 2011 levará a cartilha "Dengue: ação e prevenção" para escolas públicas de ensino fundamental em Fortaleza".
Para a população essas medidas serão muito bem vindas, pelo menos é o que afirma o confeiteiro Odacílio Silva Xavier, 26 anos, morador do bairro Messejana, diga-se de passagem uma das regiões com maior incidência na Capital. Para se ter uma ideia, foram registrados em 2010, o total de 162 casos confirmados da doença no bairro. "A minha parte eu faço, porém do que adianta se o vizinho não faz? É comum ver as pessoas jogarem o lixo nas ruas sem ser no dia da coleta, porém a gente já não fala mais nada, afinal eles sabem que o que estão fazendo é correto, eu fico é com vergonha".
Com relação a probabilidade de a Dengue se transformar em mais uma das doenças negligenciadas, assim como malária, leishmaniose visceral, e a doença de Chagas, Fonseca afirmou que essa possibilidade não existe, "Nós temos investimentos em tecnologia e breve teremos mos a vacina, que já está sendo testada em humanos".
Parceria
Para a coordenadora das pesquisas de Dengue da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Maria Izabel Florindo Guedes, "para conseguir um controle eficaz contra epidemias de Dengue, deveriam existir parcerias permanentes entre as instituições de pesquisa e gestores da saúde", afirmou.
Ela acrescentou ainda, que se o Estado adotasse o monitoramento do vírus dentro do ambiente ecológico, ou seja, que identifica onde tem foco do mosquito contaminado, seria mais fácil direcionar as ações de combate a doença. "Investir no extermínio dos focos com o vírus é uma maneira precoce de evitar uma epidemia".
Além desses pontos, Florindo apontou a seguinte situação. "A dengue já é uma doença endêmica. As chuvas já começaram e muitos ovos já eclodiram, não vamos ter como evitar a epidemia, o que podemos fazer é reduzir a abrangência dela".
Um dos desafios apontados por ela, é em relação a convivência da população com o mosquito. "Pois ele, o Aedes, não vai acabar nunca. Portanto, se faz necessária uma ação conjunta de gestores, desde do jardim da infância até a universidade, passando também pelas igrejas, afinal a dengue não escolhe classe, muitos menos credo".
Vacina
Segundo Manoel Fonseca, ainda este ano serão aplicados testes em humanos da vacina tetravalente contra a dengue em outros estados do Brasil, "serão 8 mil pessoas por cada Capital, e Fortaleza está no meio das cidades escolhidas".
Segundo o sanitarista isso significa grandes chances de se ter uma maneira eficaz de acabar com a doença, pois exterminaria com o ciclo de infecção. "Essa é a terceira fase dos testes, onde uma quantidade maior de pessoas é exposta a eles".
THAYS LAVORREPÓRTER
A opinião do especialista
Sem métodos eficazes
Infelizmente não se tem métodos eficazes para combater este mosquito em algumas das fases do seu ciclo. Por exemplo, o ovo do Aedes é colocado fora d´água, em recipientes que podem ser transportados por quilômetros e permanecer viáveis por até um ano e quando forem cobertos por água, dentro de uma semana eclodirão mosquitos, que já poderão nascer contaminados por um dos vírus do dengue.
Apesar da aparente simplicidade em controlar esta doença, ela só vem aumentando sua área e o número de casos graves. O seu controle passa por diversas instâncias governamentais e da sociedade e caso não haja uma interação entre todos os seguimentos da população e se prolongando por período superior a uma década, vamos continuar na mesma situação de endemia e com surtos epidêmicos a cada 3 a 5 anos.
O conhecido Fumacê só deve ser utilizado em períodos de epidemias e para bloquear áreas de focos, portanto de pouca eficácia no controle da doença. Como vamos continuar tendo mosquito no nosso meio, vamos continuar tendo casos de dengue na população e infelizmente a proporção de formas graves da doença irá aumentar. É imperativo que se tomem todas as medidas de estruturação dos serviços de saúde, públicos e privados, para que possamos conduzir corretamente os casos de dengue.
O treinamento dos profissionais de saúde só terá efetividade no manejo dos doentes se houver está estruturação dos níveis de saúde fazendo os atendimentos primários e secundários funcionarem com serviço de boa qualidade e isto é de fundamental importância para que os serviços terciários possam estar desafogados para funcionar eficazmente. Havendo condições para os profissionais de saúde trabalhar a condução da maioria dos casos de dengue exige pouca complexidade e tem baixo custo financeiro.
Ivo Castelo Branco Coelho** Consultor e pesquisador da Organização Mundial da Saúde em Dengue.
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