Economia Verde


Subtítulo: 
Green Jobs: Um mercado em ascensão

Jessika Thais e Tarcilia Rego


Aos profissionais que buscam aliar carreira com desenvolvimento sustentável, os “empregos verdes” prometem um futuro promissor. O “esverdeamento” da economia global aponta para um mercado com novos padrões de produção e consumo que impacta diretamente sobre o mercado de trabalho.

Em junho, o Brasil sediará a Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável (Rio+20). A economia verde é um dos principais temas a serem discutidos na cúpula.  Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), é uma economia que resulta em melhoria do bem-estar da humanidade e igualdade social, ao mesmo tempo em que reduz, significativamente, riscos ambientais e escassez ecológica.

 

Eficiência energética, manejo e reciclagem de resíduos, emissão de baixo carbono, produção mais limpa, seguranças hídrica e alimentar, e adaptação às mudanças climáticas, estão na ordem do dia. O “esverdeamento” da economia global aponta para um mercado com novos padrões. E, para responder aos desafios de uma transição dos produtos, serviços e processos para uma produção mais adaptada às questões ao meio ambiente, “surgem os empregos verdes”.

Ecologização
Os “empregos verdes” ou green jobs prometem um futuro promissor aos profissionais que se preocupam com o desenvolvimento sustentável. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o conceito de empregos verdes se refere a trabalhos que protegem a biodiversidade, assim como atividades que desempenham um papel central na “ecologização” de certos setores, desde a mineração e a agricultura até a indústria e os serviços, como por exemplo, o setor de transportes.

 

Para a doutoranda Bleine Queiroz, professora da graduação e pós-graduação da Universidade de Fortaleza (Unifor), os empregos verdes exigem profissionais com conhecimentos interdisciplinares. É um mercado que está em franco crescimento e precisa de profissionais qualificados. “Este é um mercado em ascensão, promete mudanças significativas que alcançam não apenas melhores salários, mas qualidade de vida no ambiente do trabalho”, disse.

 

Os governos devem estimular e investir em “empregos verdes”, destaca a professora Bleine Queiroz. Segundo a docente, o Fundo Nacional de Meio Ambiente (FNMA) disponibiliza recursos que não estão sendo utilizados em sua plenitude pelos municípios devido ao baixo número de profissionais servidores, capacitados para a área ambiental. “As prefeituras não apresentam projetos de políticas verdes e, consequentemente, impedem o investimento destinado aos seus munícipes, notadamente nas áreas mais necessitadas como saneamento ecológico, reúso da água, agricultura sustentável”, finaliza.

Cenário brasileiro
O relatório Empregos Verdes no Brasil: Quantos são, onde estão e como evoluirão nos próximos anos, encomendado pela OIT e lançado em 2009, lista 2.653.059 empregos ligados às “áreas verdes” no País, ou seja, 6,73% do montante somado no total dos postos de trabalhos formais. Isso sem contar empregos que se encaixam no perfil de empregos verdes, mas estão misturados a outros setores, como a produção de veículos movidos a álcool e a gás natural. Sem falar em empresas que têm obrigação legislativa de trabalhar com profissionais ambientais, como as petrolíferas.

 

Para alguns especialistas, o aumento, tanto da oferta como da procura por vagas para empregos verdes, é uma tendência natural, mas que é algo ainda novo, como informa a gerente executiva de seleção da empresa MRH, consultoria especialista em gestão de pessoas e serviços, Valéria Mota. “As demandas para profissionais na área de meio ambiente e sustentabilidade que chegam, ainda são pontuais, mas já é possível perceber uma movimentação maior”. E a procura é geralmente por formados em engenharia, com pós-graduação em segurança do trabalho ou meio ambiente.

 

Com o crescimento da valorização do meio ambiente nas legislações e nas empresas e empreendimentos, tanto no setor privado quanto no setor público, está cada vez maior a demanda por profissionais especialistas nesta área de conhecimento. Estes profissionais assumem funções diversas, como planejadores e gestores, auditores, consultores, peritos, certificadores, analistas e operadores.

 

Para o estudante de Engenharia Ambiental e Sanitária, Sérgio Theophilo, do Instituto Federal do Ceará (IFCE), as perspectivas de colocação no mercado para “profissionais verdes” são promissoras. “É possível perceber um acréscimo considerável de vagas, tanto para estagiários quanto para graduados, e acredito que ainda vá aumentar”. Disse, lembrando que a legislação está exigindo, cada vez mais, a assinatura de especialistas e técnicos em projetos da área.

 

Na opinião da especialista em educação ambiental, Alina Bertoni, de São Paulo, o futuro profissional pode esperar um mercado amplo de oportunidades, porque não há profissionais suficientes na área, a tendência é de que nos próximos anos as pequenas e médias empresas de todos os setores contratem gestores ambientais. “Já se fala na perspectiva do setor público, inclusive as Organizações Não Governamentais (ONGs), contratarem gestores para projetos ambientais, e, ainda, para a contratação na área de consultoria a grandes, médias e pequenas empresas.” Alina é formada em gestão ambiental.

 

Muitas empresas ainda não estão preparadas para implantar o conceito de “economia verde” em seus ambientes de trabalho, como explica o responsável pela área de Responsabilidade Social Corporativa e Meio Ambiente da Coelce, Sérgio Araújo. “É preciso conscientizar e capacitar funcionários para que isso aconteça”. Ele conta que a Coelce (Companhia Energética do Ceará) precisou adaptar-se ao novo modelo de gestão, trabalhando de acordo com os princípios estabelecidos na política ambiental da empresa: ética, conformidade legal, educação ambiental e gestão de resíduos.

Mercado
Os trabalhadores precisam ser capacitados para o novo formato de emprego, que deve se tornar cada vez mais comum nas sociedades que pretendem ser sustentáveis, destaca Araújo. Ele explica que não basta ter profissionais especializados para planejar e implantar uma política de economia verde, é preciso capacitar no sentido de construir coletivamente uma nova cultura entre colaboradores e meio ambiente.  “Trabalho com uma equipe de quatro pessoas e todas são capacitadas. Isso acaba gerando benefícios para a empresa e para todas as partes interessadas”, encerra.

 

A transformação dos mercados laborais em direção a uma economia sustentável reduz o nível de impacto das empresas no meio ambiente e dos setores econômicos, para o coordenador do Núcleo de Meio Ambiente (Numa), Renato Aragão, da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec). “A aplicação de uma estratégia que integra processos com o propósito de aumentar a eficiência no uso de matérias primas como água e energia, e redução e reciclagem dos resíduos gerados (Produção mais Limpa ou P+L), além de reduzir desperdícios, aumenta a competitividade, gera empregos e ainda promove uma boa imagem da empresa.”

 

Ainda segundo Aragão, estar comprometido com o meio ambiente já é algo natural, e faz parte central do negócio da indústria (core business). Essa deve ser, também, a realidade de outros setores do mercado. “Quando se trata de exportação, ter selos e garantias que provam o comprometimento da empresa com o meio ambiente faz toda a diferença na hora de fechar negócios”, completa o dirigente industrial, lembrando o novo e emergente mercado de trabalho ligado ao setor de  certificação e normalização ambientais.

 

Muito menos visíveis, mas igualmente importantes para uma produção mais verde, são os trabalhadores informais que também merecem atenção. Fala-se muito sobre grandes empresas, multinacionais e indústrias, mas é importante lembrar que o mercado verde está em vários lugares, como nos pequenos serviços que são prestados à sociedade todos os dias, da troca de óleo do carro, passando pelo encanamento da casa e até a destinação e coleta de resíduos sólidos domiciliares. A reciclagem é o tipo de emprego verde que mais abre postos de trabalho no Brasil.

 

Ângela Maria Pereira Balbino cata lixo. Com seu trabalho em Brasília sustenta cinco filhos. Além de catadora, ela é artesã e dirige a Cooperativa de Reciclagem, Trabalho e Produção (Cortrap), que recolhe, separa e vende para reciclagem o lixo de órgãos como a Câmara Federal, ministérios e a Procuradoria-Geral da República. “Quando eu ia pensar que você pega um monte de jornal, agrega valor a ele e vende de novo?”, questiona ela.

 

Desde 1999 a OIT dissemina uma relação de noção de trabalho decente onde os empregos verdes devem “constituir empregos adequados que satisfaçam antigas demandas e metas do movimento trabalhista, ou seja, salários dignos, condições seguras de trabalho e direitos trabalhistas, inclusive o direito de se organizar em sindicatos”, no entanto, conseguir essas condições ideais é mais um desafio para esse século.

 

Esta é uma das razões que contribui para que os empregos verdes estejam praticamente em todas as áreas como a construção civil, de energias renováveis, na agricultura, na indústria e nos serviços. Relatório da Organização Internacional do Trabalho sinaliza que dezenas de milhões de outros postos de trabalho podem surgir com o investimento em tecnologia ambiental.

 

Sobre isso, o professor e coordenador Oyrton Azevedo, do curso de Engenharia Ambiental da Unifor, alerta: “Os cursos de graduação e pós-graduação têm aumentado, mas não se vê trabalho de conscientização com profissionais básicos como encanadores e eletricistas. Eles precisam saber desse trato ambiental para poder lidar com o material sobressalente dos seus serviços e aprenderem a usar os recursos de forma consciente. Além do quê, eles devem levar para suas rotinas as ações sustentáveis como não deixar a torneira escorrer, todos devem fazer isso”.

Recomendações
O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e a OIT recomendam que os “empregos verdes” devem ser trabalhos decentes e que os trabalhadores precisam ser capacitados para o novo formato de emprego, que deve se tornar cada vez mais comum nas sociedades que pretendem ser sustentáveis.

 

Quanto aos governos, devem incentivar as pesquisas de novas formas de tecnologia ambiental e promover leis que incentivem essas ações; e quanto aos empresários, sejam preparados para avaliar o potencial para esse tipo de emprego em um empreendimento. Eles também devem receber subsídios, ecotaxas e participar da venda pública de créditos de carbono para obter recursos que serão usados na geração dos empregos verdes.

 


Programa Global da OIT
Fazer dos “empregos verdes” uma realidade


  



A Organização Internacional do Trabalho (OIT) está fazendo um grande esforço para chegar a ser reconhecida como a organização internacional que enfrenta as repercussões da mudança climática no mundo do trabalho, das políticas relacionadas com esta mudança e outros desafios e oportunidades ambientais.

 

Com esse objetivo, está trabalhando para melhorar sua perícia e análise, o assessoramento político e as aplicações práticas para a formulação e adoção de políticas e medidas que contribuam para a recuperação da crise econômica no curto prazo, e para promover uma globalização justa e o desenvolvimento de empresas e economias sustentáveis que sejam eficientes, socialmente justas e ambientalmente corretas a médio e longo prazo.

 

A estratégia da OIT para o Programa Empregos Verdes inclui organizar e compartilhar informação para desenvolver uma ampla base de conhecimentos, ferramentas provadas e enfoques práticos, uma boa equipe formada por unidades e escritórios da OIT, o compromisso total dos constituintes da organização, as associações estratégicas e a combinação de recursos para alcançar as metas estipuladas.

Atualmente, o programa da OIT se concentra em cinco prioridades:
 

1. Ferramentas para diagnosticar os impactos do mercado de trabalho e para informar a formulação de políticas;
2. Enfoques práticos para o desenvolvimento sustentável de empresas;
3. Promoção de “empregos verdes” no manejo e reciclagem de resíduos;
4. “Empregos verdes” baseados na energia renovável e na eficiência energética;
5. Criação de empregos e empresas adaptadas à mudança climática.



 

Programas Nacionais

O  número de países em que se aplica o programa tem aumentado rapidamente, particularmente na região da Ásia-Pacífico.


>> Bangladesh: Gestão de resíduos;

>> Brasil: Biocombustíveis, “empregos verdes” na habitação social;
>> China: Mapeamento de impactos da mudança climática no mercado de trabalho e eficiência energética;

>> Costa Rica: Ecoturismo e agricultura sustentável;
>> Haiti: Infraestrutura para adaptação à mudança climática;
>> Índia: Desenvolvimento local e energia renovável, empregos verdes e garantia de emprego;

>> Filipinas: Desenvolvimento local e adaptação à mudança climática;
>> Somália: Adaptação à mudança climática;
>> Tailândia: Empresas verdes.

O trabalho da OIT sobre os “empregos verdes” se desenvolve em torno de associações das quais a mais importante é a Iniciativa Empregos Verdes, estabelecida em 2007 entre o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), a Organização Internacional do Trabalho e a Confederação Sindical Internacional (CSI). A Organização Internacional de Empregadores (OIE) uniu-se à Iniciativa em 2008.

 

A iniciativa foi lançada para promover as oportunidades, a igualdade e a transição para uma economia sustentável, e para induzir os governos, empregadores e trabalhadores a se comprometerem com um diálogo sobre políticas coerentes e programas eficazes, a fim de criar uma economia favorável ao meio ambiente com “empregos verdes” e trabalho decente para todos.

 

É também  parte de uma estratégia ampla do sistema da Organização das Nações Unidas (ONU) para enfrentar a mudança climática. Uma associação estratégica foi criada com o PNUMA e a colaboração estreita em torno do meio ambiente, desenvolvimento e redução da pobreza com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e com o Instituto das Nações Unidas para Treinamento e Pesquisa  (UNITAR).

 

Fonte: Informações tiradas do  trabalho “Programa Empregos Verdes – OIT”, impresso pelo escritório da Organização Internacional do Trabalho no Brasil.
Iniciativa de Empregos Verdes
Departamento de Integração de Políticas
Organização Internacional do Trabalho
http://www.ilo.org/greenjobs
Empregos Verdes para a Ásia e o Pacífico
http://www.ilo.org/asia/lang--en/index.htm

 


O que dizem os líderes mundiais sobre os “empregos verdes”

 

 

 

 

 

 

 

 Fonte: REVISTA ECONORDESTE