sábado, 8 de janeiro de 2011

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Arremesso de lixo e escassez de fone de ouvido

“Ah, esse aí deve jogar lixo na cueca do pai também, né?” Assim esbravejava uma senhora cobradora de ônibus no domingo da semana passada (26). Como cidadã e funcionária exemplar, abaixou e foi pegar o papel que um anônimo jogou no chão do ônibus, perto da catraca. Ela então o arremessou... no cesto de lixo vazio do ônibus? Claro que não, foi direto para a rua, pela janela do ônibus!
A cena ilustra um costume infelizmente ainda parte da cultura de certos cidadãos paulistanos. Se o visitante perder o espetáculo em si, dê uma olhada no chão e veja seus vestígios. Parece até uma modalidade esportiva: “Arremesso de Lixo ao Longe”.
O transporte público é um dos locais favoritos pelos praticantes, visto que, uma vez feito o arremesso (pela janela), em breve o participante já estará longe do resíduo.
Latinhas de bebida são uma classe de objetos comum para a atividade, arremessadas pela janela por cidadãos que variam desde um homem maduro e barbado até uma apaixonada adolescente acompanhada do namorado, em seus passeios de ônibus.
Ainda por cima, a prática dá uma forte contribuição para a formação de tradicionais atrações turísticas da capital, especialmente nesta época de fim e início de ano: os rios e lagos artificiais pelas ruas. Faltam apenas as gôndolas venezianas para navegá-los.
É claro que alguns, como um respeitável e bigodudo senhor avistado, preferem o metrô para jogar seu lixo. É mais emocionante na última hora, antes que a porta do trem se feche.
Em países como Japão (onde “kirei” é palavra que significa tanto “bonito” como “limpo”), Reino Unido e Espanha, não pude apreciar este nosso costume local. Uma exceção na Terra do Sol Nascente foi presenciar um estrangeiro do Sudeste Asiático arremessar uma embalagem de plástico de sua bicicleta. Ah! Estou em casa de novo.
Pelo menos, Carlos Cunha, que dirige a ONG Companhia Ecológica, observa que reduziu muito a quantidade de pessoas que jogam lixo na rua em SP. “Acredito que, de uns 20 ou 30 anos pra cá, o hábito caiu em cerca de 40% nas áreas mais centrais, e em uns 5 ou 10% na periferia”, estima ele, atribuindo o fato à educação ambiental.
SOM PARA TODOS
Outro tipo de poluição que pode ser experimentado no transporte coletivo em São Paulo é a sonora. É um caso sério como ainda se podem ver passageiros em ambiente fechado ouvindo música sem fone de ouvido. Só pode ser por um instinto cultural de solidariedade e generosidade, para compartilhar sua música com os demais, não?
Ou ainda poderia ser um manifesto contra o sentimento de individualidade da metrópole em tempos pós-modernos. O portador de emissor de som sem fone de ouvido no fundo deve querer um ar de comunidade, em que todos compartilhem o mesmo som (o dele, claro), ao invés de ficar cada um na sua.
Outra possibilidade que poderíamos elencar seria a falta de dinheiro desses cidadãos para comprar fones de ouvido.
Até considerando-se que, normalmente, os estilos musicais ouvidos por eles poderiam ser associados a classes sociais de menor poder aquisitivo. De fato, um par de fones de ouvido de excelente qualidade pode chegar a custa mais de R$ 2.000. Mas também estão disponíveis, até mesmo pelo site Buscapé, fones de R$ 1,50.
Não tem jeito, o diferencial mesmo para que o cidadão ajude a tornar a cidade mais agradável, tanto para os turistas como para seus habitantes, seja na limpeza ou barulho, é mesmo o fator cultural. Fica o apelo.
http://blogdoturismo.folha.blog.uol.com.br/Retirado do blog do turismo 

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