sábado, 12 de março de 2011

TRISTE CONSTATAÇÃO

Terras de ninguém na Capital

Na semana em que foram derrubadas mais de 50 árvores em área da Capital, O POVO procurou locais preservação dos parques da cidade
12.03.2011| 01:30
APA do Rio Ceará praticamente não conta com fiscalização (Foto: RAFAEL CAVALCANTE) APA do Rio Ceará praticamente não conta com fiscalização (Foto: RAFAEL CAVALCANTE)
Quase todos os espaços verdes de Fortaleza sobrevivem à própria sorte. Mesmo os regulamentados como unidades de conservação, protegidos por lei, padecem. A Área de Preservação Ambiental (APA) do Estuário do Rio Ceará, criada oficialmente em 1999, tem quase o triplo de extensão do Cocó e praticamente nenhuma fiscalização. Na semana em que houve a derrubada, em área urbana, de cerca de 50 árvores, O POVO pesquisou a situação dos parques da cidade.

“A APA foi criada para barrar a ocupação desordenada e levar educação ambiental para a população”. As palavras do gerente da APA do Rio Ceará, Adail Garcez, se dão somente na margem das ideias. Na prática, o que se tenta evitar pode ser facilmente visto: disposição inadequada de resíduos sólidos, lixo urbano, poluição e desmatamento do mangue. Dois gerentes são os responsáveis pela fiscalização. Garcez aponta que eles contam com a ajuda da população.

No lado Oeste da Capital, a última reserva verde está desprotegida. Do bosque da avenida Sargento Hermínio até a Lagoa do Pici, chegando ao rio Maranguapinho, os moradores pedem a formação do Parque Rachel de Queiroz. O projeto original é de 2002. O chefe do Distrito de Meio Ambiente da Secretaria Executiva Regional III, Antônio Soares, explica que está em andamento a licitação. Por falta de verbas, não poderá ser completado integralmente.

O projeto inclui 15 trechos e, no momento, está sendo licitado o local próximo ao colégio Santa Isabel, na Mister Hull. “O custo total é de 40 milhões. Não temos, nesse momento, recursos”, conta.

Parque do Cocó
O Parque do Cocó, que é a área verde mais usada da cidade, também sofre usos incorretos. Mais de 20 anos depois de ter sido criado, o parque ainda não existe oficialmente. Após a proposta de criação ficar pronta, falta a aprovação do governador.
“Temos pontos a considerar como a função ecológica de algumas áreas e os custos altos dos terrenos de propriedades particulares. Aquela área é caríssima e algumas ficaram inférteis”, pontua Arílio Veras, secretário-geral da Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace).

Questionado sobre a possibilidade de fazer projetos para fertilizar esses locais, o secretário informou que mais interessante seria proteger áreas ainda não degredadas. Apesar de não oficializado, segundo Veras, o parque recebe todos os benefícios da lei ambiental.

Para agilizar a oficialização, em abril de 2010, a Semace propôs reduzir 246,37 hectares da poligonal apresentada pelo Conselho de Proteção ao Meio Ambiente do Ceará. Veras destaca que não seria essa uma redução, já que o parque sequer foi oficializado.

Um contrato com a Caixa Econômica Federal, avaliado em 218 milhões, deve possibilitar a transferência de 1983 famílias. “Já existe um estudo sobre o terreno, mas preferimos não informar”, disse.

A faixa esquerda da avenida Sebastião de Abreu, onde ficam as dunas do Cocó sairiam da área do parque para facilitar a demarcação, adiada desde 1989, ano em que o parque foi criado extra oficialmente. O estudo da Semace pede a criação de outras duas unidades de conservação, ligadas ao ecossistema do Cocó, mas para além da área do parque. (colaborou Mariana Toniatti)

O quê
ENTENDA A NOTÍCIA
O problema é nacional. O Brasil tem muitas unidades de conservação, mas poucas protegidas e em equilíbrio. Em Fortaleza também é assim. É preciso investir em fiscalização e no manejo sustentável dessas áreas verdes.

SAIBA MAIS

A APA do Rio Ceará foi criada em 1999 e tem 2.744.089 hectares. Um dos afluentes dele é o Maranguapinho, que ainda sofre com ocupação desordenada.

O mangue é berçário da vida marinha, protege contra a erosão, filtra a poluição do rio, ajuda a regular a temperatura. Ao todo, o mangue presta 19 “serviços ambientais”.

O Parque do Cocó tem como “estrela” o rio que corta a cidade e é entrada dos ventos alísios vindos do Oceano Atlântico.

O Parque Rachel de Queiroz é a maior área verde da bacia do Riacho Alagadiço. Tem projeto orçado em cerca de R$ 40 milhões, mas a verba não está garantida. O primeiro trecho será próximo à av. Bezerra de Menezes.

Angélica Feitosa
angelica@opovo.com.br

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