domingo, 6 de março de 2011

para refletir

Crise ecológica, crise civilizacional

A crise ecológica desemboca numa crise do próprio sentido da vida humana, de sua inserção na natureza
05.03.2011| 15:00


O grande entusiasmo provocado pela retomada do crescimento econômico gerou um processo reflexivo sobre seu sentido e sobre o tipo de sociedade que ele está gestando.

A primeira questão discutida entre os analistas contemporâneos é precisamente o paradoxo que marca hoje nossa vida coletiva: por um lado cresce a sensibilidade na sociedade a respeito das questões ecológicas; por outro lado, percebe-se um imobilismo quando se trata de programar ações concretas, sobretudo, quando isto envolve interesses econômicos. A crítica aqui se articula enquanto esforço de mostrar os limites constitutivos do modelo neodesenvolmentista em execução.


Um elemento fundamental é compreender que a crise ecológica é a manifestação de uma crise bem maior, mais ampla e mais profunda que se concretiza nas crises econômico-financeira, alimentar, ecológica, energética e do trabalho que são profundamente inter-relacionadas. Tudo isto desemboca numa crise ético-cultural que toca o cerne do sentido humano do mundo que construímos na modernidade. Antes de tudo, mostra-se o paradoxo central da civilização que implantamos na modernidade: o desenvolvimento tecnológico vinculado à forma capitalista de configurar a vida social alargou a distância entre os seres humanos, agravou o abismo entre ricos e pobres, entre o Norte e o Sul. Enquanto foram gestadas gigantescas possibilidades para a atuação do ser humano no mundo, a fome e a pobreza se propagaram levando milhões de pessoas a situações humilhantes.

Este modelo provocou a destruição sistemática do meio ambiente trouxe problemas globais que ameaçam toda a humanidade. A queima de combustíveis fósseis provocou o aparecimento do efeito estufa devido à poluição do ar pela concentração de gás carbônico na atmosfera. Esta concentração começou a aumentar a partir da revolução industrial em virtude da necessidade de queimar grandes quantidades de carvão mineral e petróleo como fontes de energia. Isto é causa do aquecimento da atmosfera, cujos efeitos, em longo prazo, são terríveis.

A destruição da camada de ozônio tornaria a vida humana sem defesa contra as radiações ultravioletas, o que resultaria em tumores de pele e no enfraquecimento do sistema de imunização. Por outro lado pesquisas científicas nos informam que o degelo do Ártico em 2007 foi o maior em um século encolhendo-o em mais de um milhão de quilômetros quadrados, está havendo elevação do mar e os desertos estão avançando.

Não seria necessário reconhecer que esta crise nos está encaminhando para um novo paradigma civilizacional? A questão ecológica é muito mais do que ela revela imediatamente. O que aqui emerge é a problematização radical de uma determinada cultura entendida como forma específica de interpretar o existir do ser humano na história.

Somos provocados por uma ameaça global que nos leva a retomar a pergunta pela validade do sentido-fundamento, que herdamos da cultura moderna. Assim, a crise ecológica desemboca numa crise do próprio sentido da vida humana, de sua inserção na natureza, no mundo humano, em última instância, no todo da realidade.

Manfredo Araújo de Oliveira
manfredo.oliveira @uol.com.br
Professor da UFC

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