segunda-feira, 14 de março de 2011

PARA REFLETIR

Vão-se as árvores, fica Fortaleza

14.03.2011| 01:30


Eu não nasci em Fortaleza, mas me fiz gente aqui. Cresci numa cidade acostumada a renegar seu passado e construir futuros que nunca chegam ou mal passam de castelos de areia. A sensação que tenho, porém, é que há uma nova Fortaleza se anunciando. Das áreas nobres às periferias da Capital, vejo pessoas se apossarem de uma dinâmica urbana, entendendo que uma cidade também é quem nela vive.

Na semana em que as árvores se foram – vitimadas pela fúria de uma especulação imobiliária de uma Fortaleza velha - , fico surpreso com as reações daquilo que identifico como uma cidade nova. Tradicionalmente, ninguém reclamaria a derrubada dessas 52 árvores. É novo o incômodo do fortalezense diante da rotina da Cidade. Dessa vez, as indignações não surtiram efeito. Mas essa nova Fortaleza, que respeita as lembranças de seu passado, conseguiu deixar de pé, por exemplo, a antiga estação de trem da Parangaba.

Os moradores do Titanzinho também fizeram o mesmo quando optaram por preservar sua praia particular, apesar da oferta de emprego fácil que chegaria na cola de um estaleiro. Na verdade, eles fizeram mais. Fizeram os habitantes de Fortaleza rever aquilo que têm como importante e saber que têm direito sobre o seu espaço urbano, independente da vontade ou interesses dos políticos de plantão. Hoje, Fortaleza é bem mais dona de si e isso é extraordinário.

Nós nunca reclamamos tanto dos buracos nas ruas, nunca questionamos tanto as obras que começam sem prazo de conclusão, nunca reivindicamos tanto verde. Isso é novo e é bom! A perspectiva é absolutamente positiva diante de todos esses novos desejos. Recentemente, a exemplo, vimos ser aprovada uma lei que autoriza a nossa alegria, mas não renega a garantia do silêncio. Nessa cidade que chamo de nova, há espaço para tudo. Inclusive, para o respeito.

Magela Lima
magela@opovo.com.br
Editor-executivo do Núcleo de Cultura e Entretenimento

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