Artigo: A importância da leitura
December 10, 2010No CommentsTerezinha Saraiva
As avaliações nacionais e a internacional – PISA – têm evidenciado o baixo desempenho escolar dos alunos da educação básica brasileira. Nossos resultados, ressaltam o mau desempenho em leitura, a dificuldade de compreender um texto, localizar e associar informações, tirar conclusões. A deficiência na leitura interfere no desempenho escolar dos alunos, nas demais disciplinas. Muitos erros cometidos em matemática ocorrem em consequência da incapacidade de ler e compreender o enunciado de uma questão, de um problema. Para melhorar a qualidade da educação brasileira, faz-se necessário criar, nos alunos, o hábito da leitura e desenvolver a capacidade de compreender textos complexos. Este esforço não pode ficar restrito à ação da escola. O hábito da leitura começa em casa.
As famílias devem influenciar seus filhos para que estes adquiram o salutar e prazeroso hábito, oferecendo desde cedo, não só seu próprio exemplo de leitor, mas colocando, à sua disposição, jornais, revistas, livros que despertem seu interesse, adequados à idade e ao seu nível de letramento. Lamentavelmente, o hábito da leitura não é uma constante entre os brasileiros. Subtraindo os que não sabem ler, é grande o contingente que não conviveu num ambiente cultural, nem em suas casas, nem na maioria das escolas que frequentaram ou frequentam. Em casa, não foram incentivados pelos pais a valorizar a cultura, para ampliar-lhes os horizontes, preparando o terreno para uma eficiente escolaridade.
Nas escolas de educação básica, também, não encontraram esse estímulo. Não é comum a existência de bibliotecas e quando existem, não é raro encontrá-las fechadas. São bibliotecas mortas. Os livros lá estão sem cumprir a finalidade de enriquecer o imaginário dos alunos. Além disso, o acervo é o mesmo de muitas décadas. São bibliotecas que não se beneficiaram da necessária aquisição de novos livros para sua atualização e enriquecimento. Além disso, pelo exíguo tempo diário de aula, os professores raramente destinam tempo suficiente para a leitura, que não precisa, necessariamente, ser só de clássicos da literatura, mas de jornais, revistas, gibis e blogs, na internet. Nossas escolas não estão preparadas para formar leitores. A começar pelos professores, que, em geral, não têm o hábito da leitura. Para que os alunos aprendam a ler e a decodificar o que leem, é necessário que os alfabetizadores dominem a técnica da leitura.
Para despertar o gosto pela leitura é necessário também, que os professores desenvolvam atraentes projetos, como, por exemplo, as rodas de leitura, que podem ser eficazes em qualquer idade. É preciso, também que os projetos contemplem gêneros diferentes de leitura. Uma outra iniciativa para desenvolver a habilidade e o gosto pela leitura, é tirar a exclusividade do ensino da leitura dos professores de língua portuguesa, dividindo esta responsabilidade com o resto do corpo docente. Para despertar o interesse dos alunos para a leitura, é necessário que os alunos decidam com os professores quais os livros que querem ler e em quanto tempo.
A leitura de um determinado livro, porque o professor o considera interessante, não é o melhor caminho para incentivar o interesse do aluno. O esforço feito pelos professores não será suficiente para transformar os alunos em leitores. Será mais fácil atingir essa meta, se eles encontrarem fora da escola, em casa, entre os amigos, na biblioteca do bairro, o mesmo ambiente de estímulo. A sociedade brasileira sofre da ausência de uma cultura que estimule a leitura.
O Brasil tem uma biblioteca pública para cerca de 33 mil habitantes. Setenta por cento das escolas públicas nem sequer possuem bibliotecas. O brasileiro lê, em média, 4,7 livros por ano. Nos Estados Unidos e na França, a média é 10, e na Finlândia, 21. Isto tudo nos leva a concluir que não será tarefa fácil, em curto prazo, melhorar o nível de leitura de nossas crianças e jovens e fazer, dos brasileiros, leitores habituais. Mas não há de ser por isto que devemos esmorecer.
Talvez só possamos incutir o hábito da leitura, na próxima geração. Para isto, temos que começar já. Cabe aqui lembrar o exemplo da Coreia do Sul. Há 60 anos, o país tinha altos índices de analfabetismo e quase a metade das crianças e jovens estava fora da escola. Há 40 anos, foi feita uma reforma educacional que apostava na leitura como base. Bibliotecas exclusivas para crianças foram instaladas em Seul, financiadas por empresas e fundações. Uma das maiores redes – Crianças e Bibliotecas – nasceu da iniciativa de um grupo de mães, preocupadas com o futuro dos filhos.
Hoje, na avaliação internacional – PISA – a Coreia do Sul está no topo do ranking, ultrapassando a Finlândia. O Brasil precisa mirar-se neste e em muitos outros exemplos, para formar uma geração de leitores. Começando pelas crianças e adolescentes que frequentam nossas escolas, formaremos futuros adultos que, por terem adquirido esse saudável hábito, o transmitirão a seus filhos, incutindo no povo brasileiro, o amor pela leitura. Com isto, além de melhorarmos o desempenho escolar dos alunos, teremos uma população com melhor nível cultural.
Não é uma tarefa impossível, no que se refere ao sistema educacional brasileiro. Já provamos, nas últimas décadas, que conseguimos resolver vários desafios de natureza quantitativa. Precisamos encontrar as respostas para os problemas qualitativos, dentre os quais avulta a melhoria da qualidade do processo ensino e aprendizagem que, embora dependa de vários fatores, externos e internos aos sistemas de educação básica, tem no domínio total da leitura e da escrita, por parte dos alunos, um importante e decisivo fator para melhorar o desempenho escolar das crianças e jovens e o padrão cultural dos adultos de amanhã.
Fonte: Folha Dirigida 09.12.2010
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