Becky Bloom do interior
Por Renata AnaniasVai fazer dois anos que moro sozinha e bem longe de casa. Quando resolvi fazer faculdade fora, meus pais deram todo o apoio, e que APOIO! Não gosto nem de imaginar a cara do meu pai quando os boletos chegam no final do mês, já que morar fora, ainda mais em Campinas é muito $$$! É a faculdade, a kitnet, o ônibus, a alimentação, os livros, a passagem de volta nos feriados e outras urgências. No começo era tudo lindo e maravilhoso, mas miojo todo dia enjoa!
Moro perto da faculdade, e só. Não ter onde comprar um pão faz uma falta tremenda, e a única saída é descer no ponto mais próximo, que para a infelicidade do meu pai é o shopping! No primeiro ano, ia no shopping mais que três vezes por semana, deixava de comer e pagar o banheiro na rodoviária para comprar roupas, me arriscava a economizar R$ 2,60 do ônibus e ir a pé pela rodovia e ainda escondia por um tempo as coisas que eu comprava. Até me esquecia delas!
E como uma cópia perfeita da Becky Bloom [protagonista do filme "Os Delírios de Consumo de Becky Bloom"], me deliciei com a facilidade de fazer cartões nas grandes lojas. Pra não doer, deixava tudo para o próximo mês ou dividia em até oito vezes. Os juros e os atrasos não pareciam importantes, mas, quando eu vi, era final de ano e eu estava com os próximos meses todos comprometidos. Uma bola de neve perfeita. E para piorar, tinha o fato de que eu não trabalhava. Ou seja, papai pagava tudo ou eu gastava a mesada que a vovó dava.
Não queria que meu pai percebesse que eu não sabia mexer com dinheiro. Eu também não achava justo que ele pagasse pelas minhas estripulias. Já no começo do ano cheguei determinada em arranjar emprego, mandei currículo para vários lugares, mas a falta de experiência e os horários não ajudaram muito. Então comecei por um tempo a vender bombons, ganhei de uma veterana todos os textos do Xerox, ajudava uma empresa a organizar excursões, ajudei meu avô em alguns serviços na gráfica e fui aos poucos me organizando financeiramente.
No segundo semestre, consegui o desejado emprego, o que me ajudou a enxergar cada vez mais o valor das coisas, de pensar três vezes antes de comprar algo e de sentir o prazer de juntar um pouquinho a cada mês.
Estou muito mais responsável com dinheiro. Nesses últimos meses paguei todas as minhas diversões, guardei a maior parte do salário e até emprestei dinheiro para o meu pai. Legal, não é. Dói muito ver o dinheiro de um mês dizendo tchau em dois minutos, mas é necessário. Me sinto satisfeita e feliz de não ser mais “papai paga tudo”.
Escrito por Mayra Maldjian às 16h03
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