O POVO
Jornal tolhe liberdade de expressão
Por Francisco Djacyr Silva de Souza em 29/08/2011 na edição 657
Geralmente, é comum que as pessoas tenham vaidade em expressar seus pensamentos e ideias e tudo isso faz parte da democracia. No entanto, para o jornal O Povo, em Fortaleza esse quesito não coaduna bem com o espírito do jornal nem com os princípios básicos da democracia. Sou um contumaz leitor de jornal e tenho um desejo sequioso de expressar minhas ideias, falar o que penso, dizer para o mundo tudo o que acho da vida. Esse desejo vem sendo tolhido pelo jornal, pois nos últimos meses meus artigos e comentários têm sido censurados, o que coincide com a guinada da prefeita de Fortaleza à condição de articulista do jornal. Para mim isso é sintomático, pois muitas de minhas críticas são ao modo equivocado de fazer política feito pela prefeita e que leva nossa cidade a vários problemas – um dos mais graves, a educação de péssima qualidade. Sem entrar no mérito da questão se a prefeita escreve ou não para o jornal quero dizer que é, sim, bom, mas também é correto que dê lugar ao contraditório como preceituam as leis de nosso país.
O que me surpreende é que ao reclamar para o ouvidor do jornal a jornalista responsável pelo setor dispara com esta pérola que acho deva ser conhecida por todos:
As palavras da nobre jornalista me surpreendem pelo fato que ainda haver no país este tipo de desrespeito aos seres humanos que são tachados, de forma irresponsável e sem o mínimo de cortesia, de “disparar para todos os lados”. Naminha humilde opinião, cometo um grave pecado: sou um ser plural e quero exercer minha cidadania, o que na visão de alguns é fora do contexto.
A jornalista afirma também que não sabe o que é prioridade, pois escrevo, dia sim dia não, e mesmo assim não se aproveita um dos meus textos? Como pode? O que vejo é que parece que neste jornal não há critério algum e somente os poderosos e famosos tem direito de dizer o que pensam e o que querem. Tentei várias vezes entender os critérios de publicação de artigos e nunca obtive a verdadeira essência ou os verdadeiros motivos da não-publicação. Em alguns jornais do país este quesito é respeitado e a maioria dos leitores recebe confirmação do recebimento e, às vezes, explicação pela publicação ou não de seu artigo.
Afirmo que este não é privilégio do jornal O Povo, que tem hoje uma prefeita como articulista. Já pensou se a moda pega? Teríamos um jornal só de políticos, que certamente têm mais poder e preferência de alguns membros dos jornalistas que podem, sim, ter suas preferências políticas, mas não podem, como diria Hegel, jogar a água da bacia com o menino dentro. Em função de tudo isso, acho que há um grave equívoco na forma de condução do jornal que, até os dias de hoje, não deu explicações convincentes do porquê da inclusão da prefeita de Fortaleza como articulista – que tem direito, sim, de se expressar, mas tem obrigação de ouvir críticas e admoestações, como manda a verdadeira essência do Estado democrático. Não podemos aceitar atitudes como estas pois a livre expressão é artigo de nossa Constituição, mas infelizmente o jornal O Povo não estudou essa lição.
Apoio para um fato muito grave
Para refrescar a memória dos que fazem o jornal estou anexando a este texto os artigos da Constituição e o Código de Ética do Jornalista.
Além do mais, vale ressaltar que muitos comentários que expus nas diversas páginas não foram publicados embora os mesmos não utilizassem em momento algum palavras de baixo calão nem acusações infundadas.
Diante de tudo isso, venho encarecidamente pedir aos zeladores dos Direitos Humanos e da livre expressão solicitar apoio a este fato que acho ser muito grave para a boa comunicação e para a democracia.
***
[Francisco Djacyr Silva de Souza é vice-presidente da Associação de Ouvintes de Rádio do Ceará, Fortaleza, CE]
Fonte: www.observatoriodaimprensa.com.br
O que me surpreende é que ao reclamar para o ouvidor do jornal a jornalista responsável pelo setor dispara com esta pérola que acho deva ser conhecida por todos:
Prezado Djacyr,
Temos recebido suas críticas sobre a não publicação de textos enviados, via ombudsman.
Não há, de nossa parte, nenhum tolhimento a seus comentários e menos ainda quanto ao fato de boa parte deles serem críticas à gestão municipal. Ocorre que o senhor nos envia, dia sim dia não, um texto e, mesmo se quiséssemos, seria inviável publicá-los no espaço diário. Diante de tantos e-mails, fico até sem saber o que é prioridade para o senhor. Há disparos para todo os lados.
Aproveito para esclarecer que, para colaboradores eventuais, estamos publicando um artigo por mês quando é possível. Já publicamos várias cartas suas e artigos também.
Agradeço sua compreensão e esteja à vontade para continuar em contato conosco
Atenciosamente
Manoella Monteiro
A essência do Estado democráticoAs palavras da nobre jornalista me surpreendem pelo fato que ainda haver no país este tipo de desrespeito aos seres humanos que são tachados, de forma irresponsável e sem o mínimo de cortesia, de “disparar para todos os lados”. Naminha humilde opinião, cometo um grave pecado: sou um ser plural e quero exercer minha cidadania, o que na visão de alguns é fora do contexto.
A jornalista afirma também que não sabe o que é prioridade, pois escrevo, dia sim dia não, e mesmo assim não se aproveita um dos meus textos? Como pode? O que vejo é que parece que neste jornal não há critério algum e somente os poderosos e famosos tem direito de dizer o que pensam e o que querem. Tentei várias vezes entender os critérios de publicação de artigos e nunca obtive a verdadeira essência ou os verdadeiros motivos da não-publicação. Em alguns jornais do país este quesito é respeitado e a maioria dos leitores recebe confirmação do recebimento e, às vezes, explicação pela publicação ou não de seu artigo.
Afirmo que este não é privilégio do jornal O Povo, que tem hoje uma prefeita como articulista. Já pensou se a moda pega? Teríamos um jornal só de políticos, que certamente têm mais poder e preferência de alguns membros dos jornalistas que podem, sim, ter suas preferências políticas, mas não podem, como diria Hegel, jogar a água da bacia com o menino dentro. Em função de tudo isso, acho que há um grave equívoco na forma de condução do jornal que, até os dias de hoje, não deu explicações convincentes do porquê da inclusão da prefeita de Fortaleza como articulista – que tem direito, sim, de se expressar, mas tem obrigação de ouvir críticas e admoestações, como manda a verdadeira essência do Estado democrático. Não podemos aceitar atitudes como estas pois a livre expressão é artigo de nossa Constituição, mas infelizmente o jornal O Povo não estudou essa lição.
Apoio para um fato muito grave
Para refrescar a memória dos que fazem o jornal estou anexando a este texto os artigos da Constituição e o Código de Ética do Jornalista.
IV – é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;
IX – é livre a expressão de atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independente de censura ou licença;
X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;
XLI – a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais (Constituição federal, 1988)
Art. 6º É dever do jornalista:
I – opor-se ao arbítrio, ao autoritarismo e à opressão, bem como defender os princípios expressos na Declaração Universal dos Direitos Humanos;
II – divulgar os fatos e as informações de interesse público;
III – lutar pela liberdade de pensamento e de expressão;
Art7º:
III – impedir a manifestação de opiniões divergentes ou o livre debate de ideias (Código de ética dos jornalistas).
Sinceramente não sei o que dizer, mas acho que algo está errado no mundo do jornalismo. Por que será?Além do mais, vale ressaltar que muitos comentários que expus nas diversas páginas não foram publicados embora os mesmos não utilizassem em momento algum palavras de baixo calão nem acusações infundadas.
Diante de tudo isso, venho encarecidamente pedir aos zeladores dos Direitos Humanos e da livre expressão solicitar apoio a este fato que acho ser muito grave para a boa comunicação e para a democracia.
***
[Francisco Djacyr Silva de Souza é vice-presidente da Associação de Ouvintes de Rádio do Ceará, Fortaleza, CE]
Fonte: www.observatoriodaimprensa.com.br
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