EDITORIAL
Fóssil cearense à venda
Publicado em 17 de julho de 2011
O patrimônio fossilífero da Chapada do Araripe continua a ter parte de seu acervo comercializado no exterior. Um raro fóssil superconservado de uma espécie de pterossauro não descrito encontra-se à venda por R$ 25,6 mil num "site" especializado norte-americano. A legislação brasileira sobre esse patrimônio material proíbe, desde 1942, a saída de peças paleolíticas do País. O contrabando conduzido por especialistas do mercado internacional transforma a proibição em letra morta.
No exterior, o comércio de fósseis é livre. Daí a existência de acervos expressivos constituídos por peças desviadas de seus sítios de origem, a sua divulgação e comercialização livres. Este episódio comporta alguns desdobramentos. O primeiro: a falta de empenho do governo em bloquear a transação irregular da riqueza brasileira, retirada ocultamente para o diversificado mercado de raridades; depois, a fragilidade no controle dos sítios paleolíticos explorados a céu aberto no Cariri; a continuidade do contrabando dos vestígios do passado de grande valia para a Ciência.
Os desvios da fauna fossilífera do Araripe são antigos. Datam dos anos 40 do século XX os primeiros sinais de descaminhos, acentuados, nas últimas décadas, pela omissão dos governos em barrar um comércio ruinoso estabelecido pela ação criminosa. No início, a atividade surgiu envolvendo as chamadas pedras de peixe encontradas no subsolo da serra. Essas amostras começaram a atrair especialistas estrangeiros antevendo a descoberta de uma verdadeira fauna petrificada.
O prenúncio se concretizou.
A venda de peixes petrificados, inicialmente direcionada para grupos japoneses encantados com suas possibilidades comerciais no mercado oriental, evoluiu para identificar exemplares maiores garimpados no complexo paleontológico do sul do Estado e comercializados nos mercados europeu e norte-americano, em alta cotação, pela qualidade das espécies e sua raridade.
No Cariri, depois das safras agrícolas, os pequenos lavradores ocupam o longo tempo de falta de trabalho na lavoura com a escavação de pedras ornamentais para complementar o orçamento doméstico. Eles não têm o menor conhecimento sobre as espécies raras extraídas do subsolo e vendidas a preços insignificantes. Por essa via, estão contribuindo junto com os atravessadores para o desmonte de um dos maiores sítios fósseis do mundo, assim reconhecido pela Unesco.
Os órgãos governamentais insistem no não-comprometimento com a causa, pois, com a ampla divulgação desses desvios, as áreas mapeadas deveriam estar sob a guarda da União a quem pertence o patrimônio dilapidado. O único avanço nessa questão decorre da instalação do Museu de Paleontologia de Santana do Cariri. Nele, a Universidade Regional do Cariri mantém, em exposição, 750 peças datadas do período cretácio, há 65 milhões de anos, e um programa didático de difusão dirigido ao público estudantil.
O governo não pode procrastinar as providências de âmbito diplomático para reaver seus bens surrupiados e as medidas práticas para estancar a exploração criminosa. Cabe ao poder público preservar essas preciosas fontes de estudo.
No exterior, o comércio de fósseis é livre. Daí a existência de acervos expressivos constituídos por peças desviadas de seus sítios de origem, a sua divulgação e comercialização livres. Este episódio comporta alguns desdobramentos. O primeiro: a falta de empenho do governo em bloquear a transação irregular da riqueza brasileira, retirada ocultamente para o diversificado mercado de raridades; depois, a fragilidade no controle dos sítios paleolíticos explorados a céu aberto no Cariri; a continuidade do contrabando dos vestígios do passado de grande valia para a Ciência.
Os desvios da fauna fossilífera do Araripe são antigos. Datam dos anos 40 do século XX os primeiros sinais de descaminhos, acentuados, nas últimas décadas, pela omissão dos governos em barrar um comércio ruinoso estabelecido pela ação criminosa. No início, a atividade surgiu envolvendo as chamadas pedras de peixe encontradas no subsolo da serra. Essas amostras começaram a atrair especialistas estrangeiros antevendo a descoberta de uma verdadeira fauna petrificada.
O prenúncio se concretizou.
A venda de peixes petrificados, inicialmente direcionada para grupos japoneses encantados com suas possibilidades comerciais no mercado oriental, evoluiu para identificar exemplares maiores garimpados no complexo paleontológico do sul do Estado e comercializados nos mercados europeu e norte-americano, em alta cotação, pela qualidade das espécies e sua raridade.
No Cariri, depois das safras agrícolas, os pequenos lavradores ocupam o longo tempo de falta de trabalho na lavoura com a escavação de pedras ornamentais para complementar o orçamento doméstico. Eles não têm o menor conhecimento sobre as espécies raras extraídas do subsolo e vendidas a preços insignificantes. Por essa via, estão contribuindo junto com os atravessadores para o desmonte de um dos maiores sítios fósseis do mundo, assim reconhecido pela Unesco.
Os órgãos governamentais insistem no não-comprometimento com a causa, pois, com a ampla divulgação desses desvios, as áreas mapeadas deveriam estar sob a guarda da União a quem pertence o patrimônio dilapidado. O único avanço nessa questão decorre da instalação do Museu de Paleontologia de Santana do Cariri. Nele, a Universidade Regional do Cariri mantém, em exposição, 750 peças datadas do período cretácio, há 65 milhões de anos, e um programa didático de difusão dirigido ao público estudantil.
O governo não pode procrastinar as providências de âmbito diplomático para reaver seus bens surrupiados e as medidas práticas para estancar a exploração criminosa. Cabe ao poder público preservar essas preciosas fontes de estudo.
fonte: diário do nordeste
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