domingo, 10 de janeiro de 2010

UMA LEITURA IMPORTANTE

Desabamentos, enxurradas e outras tragédias




Foi-se o tempo em que o ambientalismo era considerado uma atividade exótica e de importância relativa. Hodiernamente, a questão ambiental assumiu o protagonismo dos debates científicos em todo o mundo, em função de sua evidente urgência e da gravidade da situação planetária em face do desenvolvimento insustentável que foi produzido nos últimos três séculos.
Atualmente, os malefícios desta cultura de exploração desenfreada dos recursos naturais se fazem sentir no cotidiano das pessoas, podendo ser percebidas alterações climáticas dramáticas, a inviabilização de rios, lagoas e praias, a poluição do ar, o desmatamento descontrolado de florestas e matas para viabilizar atividades agrárias ou a exploração de madeira. Não estamos mais falando de algo distante ou hipotético, mas simplesmente testemunhando diariamente o declínio da qualidade de vida da nossa geração, que se traduz em diversas lesões simultâneas e superpostas com as quais somos obrigados a conviver.
Aliás, para quem supunha que os alertas ambientais eram exagerados, todo o verão começa com tragédias que comprovam que as questões relativas à ecologia não são histeria de pessoas desequilibradas, mas uma emergência que deve ser finalmente enfrentada: nossa sociedade optou pelos benefícios econômicos numa escala que prejudica irremediavelmente a natureza, trazendo como consequência o prejuízo do próprio homem.
Esta acepção economicista de sociedade parece ser comum a todos os modelos ideológicos que servem de base para as correntes políticas que lutam pelo poder em todos os países. As denominadas direita e esquerda, os ditos capitalismo, socialismo e comunismo, os países centrais e os periféricos, todos os modelos e governos pressupõem a conquista da prosperidade através do desenvolvimento econômico. A questão ambiental é tratada pelos detentores do poder como um detalhe e ser solucionado em prol de um bem mais valioso e importante que é a criação de riqueza a partir de atividade econômica que consome recursos ambientais.
Desta constatação histórica podem ser tiradas algumas conclusões: a primeira delas se refere à inclusão da vida humana como integrante da preocupação ambiental, não se podendo ter mais a visão de que a ecologia é algo do qual o homem não participa como interessado principal. A segunda conclusão é de que se o homem é vítima, também, dos descuidos com o ambiente, sua qualidade de vida passa a ser um bem a ser protegido. Assim, o que deteriora a qualidade de vida da população é lesão ao meio ambiente. Engarrafamentos, a favelização das cidades, a desordem urbana em metástase, os desabamentos, a formação de ilhas de calor por falta de aeração, a exploração imobiliária predatória, enfim, mazelas do cotidiano de grandes cidades do Brasil, são questões ambientais e devem ser interpretadas e enfrentadas a partir dos princípios do Direito Ambiental.

Quanto ao chamado desenvolvimento sustentável, paradigma da relação entre o desenvolvimento social e econômico e a necessidade de se preservar o meio ambiente, é possível que seja um dos termos mais manipulados e prostituídos, com o perdão da expressão, da História recente. No Brasil, sustentabilidade virou sinônimo de marketing empresarial. O que se tem visto é que a força dos interesses econômicos é capaz de influenciar todos os poderes constituídos, através de expedientes legais ou ilegais, infelizmente. A própria criação da lei é muitas vezes manipulada por interesses econômicos que se impõem à lógica da proteção do meio ambiente.
Agora, o preço desta prática começa a ser cobrado
 

Fonte: JORNAL O ESTADO -  09/O1/10

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