Progresso e ecologia
7/1/2010
Passada a efervescência dos debates e acordos, alguns deles feitos de improviso, na recente Conferência de Copenhague, o presidente Lula sancionou a lei que estabelece a Política Nacional de Mudança Climática, corroborando o compromisso voluntário do Brasil de reduzir suas emissões de gás-estufa em 36,1% a 38,9% até 2020. Nos vetos apostos ao texto aprovado no Congresso Nacional, o setor do petróleo e as hidrelétricas. Além disso, os recursos alocados ao plano de luta contra o aquecimento global poderão ser retidos como reserva do País.Paralelamente, cresce o grupo daqueles que acreditam ser o desenvolvimento estreitamente relacionado aos valores sociais e ambientais, com uma economia baseada em biomassa e biodiversidade. Partem do pressuposto de que, mantidos os atuais níveis de demanda de energia, dentro do mesmo alheamento à gravidade do problema em curso, o Planeta entrará em colapso em aproximadamente 30 anos. Os divulgadores da chamada biocivilização estão convictos de que, além da instituição de sistemas mais sóbrios de consumo energético, o caminho fatal para a suposta falência do mundo serão as rotas de crescimento econômico desvinculadas de critérios sociais e de cuidados com o meio ambiente. Mas consciência dessa realidade está-se ampliando gradualmente.
No entender do brasilianista europeu Ignacy Sachs, a quem se deve o mérito de ser o criador do conceito de desenvolvimento sustentável, a biocivilização está a requerer planejamento efetivo imediato, não mais podendo ser pensada em longo prazo. Embora não menospreze a descoberta do pré-sal, considerada indispensável ao período de transição que se seguirá, ele admite que o Brasil reúne condições para liderar no futuro o processo da economia de baixo carbono. Além da maior floresta tropical em pé, o território nacional possui as vantagens do clima favorável e de um potencial a ser conquistado através da biomassa. O grande desafio para o País, na segunda década do século XXI, será encontrar soluções para produzir biocombustível sem afetar a segurança no campo da produção de alimentos.
Na opinião do indiano Amartya Sem, Prêmio Nobel de Economia em 1998, a fome do mundo não decorreria da escassez de alimentos em si, mas do poder de compra insuficiente dos consumidores, o que implicaria numa redefinição do conceito de desenvolvimento como acesso das pessoas aos direitos universais, neles incluído o direito coletivo ao meio ambiente. Caberia ao Estado, segundo o economista indiano, colocar em prática um conjunto de ações que facilitem o acesso à terra, com assistência técnica permanente e a implantação paralela de variadas formas de empreendedorismo coletivo.
Na civilização da biomassa, seriam de vital importância o relacionamento do homem com a terra e o fortalecimento da agricultura familiar, priorizando a harmonia entre o desenvolvimento rural e o urbano.
No cômputo geral, torna-se imprescindível a execução de sérios projetos, sem artificialismos ou jogos duplos ditados por conveniências circunstanciais. Faz-se necessária, sobretudo, a ausência de qualquer espécie de radicalismo, político ou ideológico, que possa vir a comprometer o justo equilíbrio do desenvolvimento da nação.
Diário do Nordeste - 07/01/10
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