terça-feira, 30 de novembro de 2010

para refletir

26/11/2010

Indecisões

Por Márcia Shimabukuro

Muitos jovens se preocupam com o que fazer, que profissão escolher para o resto da vida. Fazer uma escolha tão importante aos 17 anos é no mínimo assustador. Que experiência temos para escolher? O que conhecemos do mundo? Como poderíamos se não conhecemos nem a nós mesmos? Somos obrigados a decidir, e assim o fiz. Passei por essa fase, que se mostrou cíclica.

Hoje, aos 19 anos, no término do segundo ano de faculdade, estou infeliz. Não sei se gosto do curso, não gosto de exercer a profissão. Ao mesmo tempo que já se passaram dois anos, ainda faltam mais dois. Sinto como se estivesse me arrastando pelos corredores da faculdade, sendo levada por impulso, como se minha vontade se despendesse de mim a cada dia.

Desistir agora? Ficar a contragosto? Aguentar ‘apenas‘ mais dois anos? Estou estagnada. E, por inércia, a motivação de seguir em frente está em repouso junto de minha razão. Sei que muitos estão no mesmo dilema, e a grande questão que me resta é ter coragem. Coragem de largar e definir o que quero realmente. Coragem de encarar a realidade e assumir que preciso de ajuda. Coragem de enfrentar meus medos e sair da comodidade.

Numa conversa bastante franca, meu pai manifestou apoio a mim. Provavelmente, percebeu minha infelicidade nos últimos tempos, sentou-se no sofá e conversou comigo. ‘Saiba que a sua família te apoia, a decisão é sua. Se você decidir largar, e fazer um curso pré-vestibular ou se quiser ficar e terminar a faculdade, nós respeitaremos a sua vontade. Você é tão nova ainda, vai encontrar algo que realmente goste‘.

Gostaria muito de acreditar nas palavras de meu pai. Fico pensando: estou perdendo tempo? Perdi tempo nesses dois anos? Sou fracassada? Por que escolhi errado? Ainda não consegui concluir minha resposta, talvez não exista uma resposta totalmente verdadeira. Sei que é cada vez mais difícil continuar, mas a barreira para sair é perversa, alta. Eu, lá embaixo, tão pequena, tão frágil. Não sei se minhas forças são suficientes para essa nova jornada e se vou mais uma vez sabotar a mim mesma. As dúvidas parecem ainda maiores e mais numerosas desta vez.

Gostaria de poder dizer que serei uma vencedora, que vou me realizar profissionalmente e serei, em breve e acima de tudo, muito feliz. Mas neste momento sinto apenas o peso de minhas indecisões e de um futuro incerto e próximo. Esse peso que me desmotiva, que me persegue, que persiste. Minha maior expectativa hoje é de que aos poucos as ideias clareiem e que com o tempo eu esteja decidida. Assim, finalmente poderei aquietar o meu coração, acalmando minhas ansiedades e medos.
Escrito por Mayra Maldjian às 16h56
11/11/2010

Trabalho traz dignidade?

Por Gabriela Quiles

Trabalho não teve sempre a mesma conotação que tem hoje. Não foi sempre considerado a mesma coisa. O trabalho antes era desprezado, agora é idealizado. Essa mudança se deu a partir da Revolução Industrial, quando já não havia mais a escravidão para sustentar a nobreza. A partir de então, numa sociedade capitalista, todas as instituições começaram a nos induzir a valorizar o labor. O governo passou a prender pessoas por "vagabundagem", as Igrejas afirmavam que quem trabalhava tinha seu lugar garantido no céu, as escolas formaram a base de crianças idealizando o trabalho.

Todos começamos então a relacionar diretamente profissão com felicidade, com dignidade. E é aí que o tema da redação do Enem desse ano se encaixa. Afinal, o trabalho traz ou não dignidade ao homem? Penso eu que ele não pode construir a dignidade humana, apesar de ter total poder de destruí-la. Isso porque, na verdade, o homem se faz digno por outras coisas, e não por sua atividade comercial. Ele se faz digno por seus pensamentos, por suas atitudes. O incentivo ao trabalho só foi feito por necessidade de lucro dos novos capitalistas que estavam emergindo, e dessa sede de lucro surgiu a ideia de dignidade como força motriz ao trabalhador.

Esse conceito se infiltrou com tanta facilidade em nossas mentes e em nosso cotidiano, que de fato nos sentimos mais dignos quando trabalhamos. Acontece que nem sempre o trabalho nos ajuda a conquistar a tão falsa dignidade. Muitas vezes ele a destrói. A escravidão, que aparentemente havia se erradicado, é a prova disso. Trabalhadores vivendo e trabalhando em péssimas condições, acabam sendo forçados a coisas degradantes, chegando a perder sua dignidade. Políticos que se deixam corromper, acabam perdendo sua dignidade. Empresários que aniquilam a natureza, perderam --ao menos para mim-- sua dignidade.

Esse pensamento de construção da dignidade humana por meio do trabalho é apenas um fruto do contexto socioeconômico em que vivemos. Fomos todos manipulados como marionetes e induzidos a gerar cada vez mais lucro, para nos tornarmos cada vez mais dignos. Enfim, encarar o expediente com outros olhos pode se tornar interessante e até revelador. A dignidade não depende de nada, a não ser de nós mesmos. Chega de transferir a responsabilidade ao trabalho: nós somos os principais responsáveis pelo caráter que construímos. Somos o que pensamos e a dignidade é um direito nosso.
Escrito por Mayra Maldjian às 18h10
02/11/2010

Diálogo entre louças


Por Barbara Arantes
Estavam a dialogar o pires e a xícara. Ambos feitos do mesmo material, com características e pinturas semelhantes, porém com funções tão diferentes.
No entanto, um é o complemento do outro, cada um exercendo seu papel separadamente.
O pires permanecia intacto, parado como uma estátua com certo tom de imponência. Já a xícara viajava para cima e para baixo sendo movida por algo que o pires não podia controlar. Algo feito de carne e osso que segurava em sua alça fazendo-a flutuar.
Tentavam conversar, entender os porquês de tantas semelhanças e diferenças, o motivo pelo qual o pires não conseguir "grudar" a xícara sobre si impedindo-a de se mover sozinha.
A xícara incomodava-se com o fato de não ser completamente independente, tendo assim que voltar para a sua base toda vez que a mão a conduzisse de volta à mesa. Sentia-se controlada e sem autonomia.
O pires tentava explicá-la que as coisas no mundo se complementam e que a função de ambos era exercida com perfeição apenas em conjunto.
A xícara não concordava com tal afirmação, respondendo muitas vezes de maneira violenta. Foi quando, revoltada, derrubou café no pires, propositadamente.
A mão, ao pegar novamente na alça, esbarrou no café derramado e escorregou, deixando assim a xícara cair, e no chão, se despedaçar em pequenos cacos.
Cacos estes constituídos da mesma matéria que o pires, que neste momento se viu entristecido com a situação. Afinal, a partir daquele dia qual seria sua utilidade sem a xícara? Aquele que sempre servira como apoio estava imóvel sem poder fazer absolutamente nada para mudar esse cruel destino dado a sua quase inseparável companheira. Apenas assistiu a pobre xícara se fazer em cacos da mais pura porcelana.

Escrito por Mayra Maldjian às 19h27
28/10/2010

Persona - Parte I

Por Luciana Marques



A sociedade atual permite que quem viva nela use máscaras para esconder seus defeitos. As pessoas tentam enganar aos outros e a si mesmas ao se reconstruírem em imagens do que gostariam de ser. É impossível reconhecer um ao outro no início, não só pelas imagens criadas, mas também pela quantidade de pessoas, como em um grande Baile de Máscaras - um mundo em que todos usam máscaras para se relacionar e aprisionar aquilo que não agrada. No fim, essas máscaras caem e se perdem, e a realidade se liberta de seu cativeiro.
Quando descobriu que perdera o emprego, Ricardo também recebeu a notícia de que sua namorada não queria mais estar ao seu lado. Ela escolheu a tarde para lhe dizer isso, e, no início da noite, ele fora ao seu antigo ambiente de trabalho para acertar os últimos detalhes. Tentou sair rapidamente após recolher o que lhe pertencia. Entretanto, o caminho da saída tornava impossível não passar em frente à sala de seu ex-chefe, a qual era também ocupada por outra presença na ocasião.
Ironicamente, estava lá sentada na mesa, de saia e pernas abertas, ninguém além de sua ex-namorada.
Agora, Ricardo andava em uma rua escura no caminho para sua casa, com seus pertences em uma caixa. Pensava. Apenas alguns meses antes, um rosto bonito batera em seu escritório pedindo ajuda. Poucas semanas depois, a ajuda concedida se expandiu para fora do escritório: para o restaurante, para o bar, para a cama. E ele se deixou enfeitiçar pela máscara usada por aquele rosto bonito, que da mesma maneira que viera, se fora em frações de segundo. Juras foram usadas para camuflar suas intenções verdadeiras, e Ricardo caíra em todas as armadilhas.
Ela soube, antes mesmo dele, que seu antigo posto não mais lhe pertencia e dito isto, a única coisa que a interessava em Ricardo se esvanesceu. Fez questão de dispensá-lo logo que ele foi demitido, e consumar o seu novo amor com aquele que estava acima dele. Provavelmente, ela usaria desse amor também uma máscara, pois se porventura este homem perdesse seu posto no trabalho, também perderia seu posto ao lado dela. E então ela procuraria alguém capaz de levá-la mais alto do que Ricardo ou seu ex chefe.
O vagante se sentia como uma escada que sua ex usou para subir sem olhar para os degraus. Assim foi ele e os outros que vieram e viriam; uma forma de fazer sua imagem, seu status, e compensar sua falta de brilho, que fez seu coração sair por suas costas e se espatifar no chão como uma peça delicada de cristal.
E ele se lembraria dela com desprezo.
Quando estamos a andar com pensamentos, é comum perdermos o rumo sem que nos apercebamos. Os pensamentos cegam os olhos para todo o resto. A caixa com seus pertences não pesava, mas Ricardo se sentiu cansado depois de um tempo, e o cansaço o fez perceber que não andava por uma rua que conhecia. A noite parecia deserta.
Desolado e perdido, resolveu seguir duas mulheres joviais, energéticas, risonhas, que iam um pouco a sua frente. Vestidas com roupas de festa curtas, carregavam máscaras nas mãos - uma delas era do tipo Carnaval de Veneza, e a outra era uma cabeça de gorila. Acanhou-se para fazer perguntas, então optou por simplesmente continuar a segui-las rua abaixo, na esperança de que fosse levado para um lugar mais familiar.
Em algum ponto do caminho, os braços cederam ao cansaço, e largaram os pertences de seu dono no chão. O barulho das coisas caindo no chão não pareceu incomodar as duas mulheres, que seguiam o caminho fiéis às suas risadas. Viraram a esquina, entraram em uma outra rua de casas, e escolheram uma porta para entrar.
Se este fosse qualquer outro dia na vida de Ricardo, ele teria desistido e procurado outro jeito de sair dali. Porém, não se contentou em ficar curioso para onde duas mulheres com máscaras nas mãos entrariam. Além disso, havia música alta e vozes dentro da casa... talvez não as atrapalharia se entrasse para espiar. Quem sabe, passaria despercebido.
Ricardo pensou ainda um pouco. Por fim, cedeu. Suspirou, foi até a porta e tocou na maçaneta. Não sabia se teria algo a perder ou não, mas procurou deixar seu cansaço e suas frustações do lado de fora.


Escrito por Mayra Maldjian às 17h00
21/10/2010

Um dia de Lennon


Por Renata Ananias

Para não deixar passar batido o aniversário de 70 anos do beatle John Lennon --ele nasceu no dia 9 de outubro--, nada melhor do que relembrar a vida do rapazinho de Liverpool fazendo o mesmo trajeto que ele fazia para ir a escola, a igreja, ao cavern club...
Depois de muito trabalho consegui convencer algumas pessoas asair de Oxford, pegar dois trens, aguentar uma viagem de quase 4 horas e finalmente chegar na cidade dos FAB 4: Liverpool.
Frio, dia cinza e chuva mais uma vez confirmando que ainda estávamos na terra da rainha. Depois de largar as malas no albergue (que eu tinha "bookado" errado), dançar na escada de incêndio, resolvemos sair para explorar a cidade.
Sem mapa e sem destino, fomos até a Chinatown, ao Albert Dock, ao Museu dos Beatles e finalmente achamos o Cavern Quarter, o quarteirão onde concentra a maior parte dos "clubs" da cidade, entre eles o famoso Cavern Club.
O Cavern Club foi onde os Bealtes iniciaram a carreira, e lá a lei é só tocar Beatles. Cada dia uma banda diferente mostra suas habilidades "beatlelísticas", muitas vezes, usando ternos iguais ao do quarteto fantástico. O lugar é todo decorado com quadros de bandas da época, autógrafos, instrumentos, monumento dos Beatles e achar um tijolinho vago para assinar é uma tarefa difícil.
No dia seguinte, fizemos uma visita ao estádio e ao museu do Livepool FC, e até entramos em um barzinho de "hooligan" por engano.
E, finalmente, mais tarde, fizemos o tour mais esperadp: o FabFour Taxi Tour. O taxi, que custa em média R$ 150,00 e comporta 5 pessoas, te leva a todos os lugares relacionados aos Beatles.
O motorista vai contando historias, mostrando fotos em cada parada. O tour dura em média três horas e vale cada centavo. Tudo começa na maternidade onde o bebe John nasceu...
John e Paul se conheceram na época do colégio, já que estudavam na mesma rua, em escolas vizinhas. E ainda na mesma rua há um monumento (A Case History) com várias malas espalhadas e alguma delas com uma indicação dizendo a quem pertencia.
Visitamos a casa do Ringo Starr, tiramos fotos no pub que foi capa do seu álbum solo e seguimos para Penny Lane. A rua Penny Lane é onde estão todas as citações da música, além do estúdio onde os Beatles tiraram sua primeira foto e a igreja em que tocavam.
Passamos pela casa do Paul e então fomos para um lugar onde Lennon queria tanto brincar e não podia: Strawberry Field, que de original só resta o portão vermelho onde os fãs deixam mensagens.
Na casa de John, tiramos fotos fazendo a mesma pose que ele fez quando criança. John foi criado pelos tios. Num certo dia, sua mãe, Julia, foi visitá-lo, e ele não estava: ela morreu naquela mesma noite, atropelada por um motorista bêbado.
Não sei por que, mas o lugar que estava mais ansiosa para visitar era o cemitério das "all the lonely people". Foi nesse cemitério, ao lado da St Peter’s Church e do monumento da paz, que surgiu a inspiração e os nomes citados na letra de Eleanor Rigby. Entre Eleanor Rigby está enterrado também George Toogood, tio de Lennon.
Nossa última visita foi a George Harrison, e então fomos abandonados pelo Fab Four Taxi em frente ao Cavern Club para mais uma noite de Beatles.



Escrito por Mayra Maldjian às 21h18
18/10/2010

Um grande brasileiro chamado mesário


Por Márcia Shimabukuro


No dia 3 de outubro, eleitores do Brasil inteiro foram recepcionados por cidadãos que prestavam serviço à Justiça Eleitoral. Eu fui uma desses cidadãos. Quando a famosa carta de convocação chegou em casa, eu não estava. Minha mãe me ligou avisando: "Chegou carta da Justiça Eleitoral para você. Você foi convocada para mesária." A carta de convocação já havia chegado em casa para meu irmão mais velho, um mês antes.



Já sabia então o que me esperava. Fiquei estarrecida com a notícia. Era pior do que se um tijolo tivesse caído sobre a minha cabeça! Trabalhar por dois domingos? Um deles bem no meio de um feriado prolongado? Era muita falta de sorte! Tinha que comparecer à minha zona eleitoral após dois dias e lá fui eu.
Para minha surpresa, uma senhora muito simpática me recepcionou, contando as vantagens de ser mesária. Contou que muitos jovens apareciam revoltados pela convocação, mas que eu iria gostar muito da experiência. E mais uma surpresa: eu deveria participar também de um treinamento para mesários, realizado (adivinhem!) em um domingo!
Engraçado é o número de lamentações que ouvi das pessoas. "Você vai ser mesária? Meus pêsames!", ou "Nossa! Que desgraça! Ainda bem que não estou no seu lugar" ou ainda "Credo! Ainda bem que eu não fui chamado!". Isso quando não faziam questão de gargalhar na minha frente e, em meio as risadas escandalosas dizer: "Se ferrou!".
Percebi o quanto nós fazemos pouco caso do mesário. É incomum alguém desejar trabalhar nas eleições, a maioria é obrigada a isso, apesar de ser crescente o número de voluntários. Meu irmão por exemplo estava inconsolável. Foram raras as vezes que o vi tão inconformado com alguma coisa. Quando ficou sabendo que eu, assim como ele, trabalharia nas eleições, ficou aliviado. "Pelo menos você vai saber o sofrimento que vai ser! Eu não serei o único!", desabafou comigo.
Enfim, o dia chegou. 3 de outubro, às 5h30 da manhã estava acordando para me apresentar na seção às 7 horas. A expressão de desgosto do meu irmão era mais evidente que Tiririca ser o candidato mais votado para deputado federal. Por incrível que pareça, acordei feliz. Achei que seria interessante fazer parte do processo democrático e contribuir para que todos tivessem seu direito de voto assegurado.
Chegando à minha seção, descobri que nunca nenhum dos meus companheiros de jornada havia trabalhado nas eleições. Sentimo-nos completamente perdidos. Os funcionários do TRE foram atenciosos o tempo todo e pacientes conosco, instruindo o que devíamos fazer antes de iniciar a votação. Logo que a seção abriu, às 8 horas, houve o primeiro imprevisto: a urna não funcionava. Chamamos ajuda, mas a urna não operava de maneira nenhuma.
Demorou 30 minutos até que fosse trocada e o problema se resolvesse. Resultado: uma fila gigantesca se formou com eleitores revoltados que não paravam de reclamar. Quem deveria se revoltar, no fundo, era eu. Fui xingada como se a culpa fosse minha, tive que aguentá-los de cara feia, bufando. Estava a ponto de explodir. Tentei atender a todos de maneira cortês e ágil, mas em contrapartida nem ao menos um bom dia eu recebi. Em um espaço mínimo, revezando entre 5 mesários, atendemos a quase 500 eleitores.
Apesar disso, aprendi algo muito especial: o verdadeiro trabalho em equipe. Mesários de outras seções foram nos ajudar quando a fila se complicou, e todos cooperaram dando o melhor de si. A presidente da seção assumiu de secretária quando foi necessário, deixamos o almoço para mais tarde quando percebemos que não era possível deixar os outros sozinhos com tantas pessoas para receber. Passamos fome, nervoso, mas dividimos uma experiência realmente única. Trocamos telefones e ficamos de nos falar, brincando, é claro, de que torceríamos para que não nos víssemos novamente ( ou ao menos não naquelas péssimas condições).
Enquanto você eleitor foi votar reclamando que deveria votar, reclamando da fila, reclamando de ter que esperar por meia hora, pessoas estavam preparando tudo para que você tivesse uma votação tranquila. Você votou, e foi embora. Eles ficaram lá até às 18 horas ou até mais. Não almoçaram com a família, não foram remunerados pelo trabalho árduo. Não é o momento também de refletir sobre a valorização deles? Meu depoimento é também um apelo: no próximo dia 31, respeite o mesário. 




Visite o site do Folhateen!

Escrito por Mayra Maldjian às 13h09
04/10/2010

Oralidade em um Torneio de Física


Por Luciana Marques
No início desse ano, recebi o convite de um amigo para participar de uma olimpíada de física diferente. Se você acha que olimpíadas de física são apenas provas escritas e individuais, saiba que nem todas são assim.
O Torneio Internacional de Jovens Físicos (International Young Physicits Tournment - IYPT) é uma olimpíada científica cujo principal diferencial são as discussões orais de problemas em rodadas de disputa chamadas 'Physics Fights'. A versão brasileira do torneio em 2010 aconteceu nos dias 10, 11 e 12 de Setembro, seguindo o modelo de realização do torneio internacional.
Porém, a divulgação dos problemas foi feita muito antes da realização dos 'Physics Fights', pois as resoluções são bastante abertas, nada imediatas e deveras complexas. São, ao todo, dezessete problemas propostos aos participantes, que se organizam em equipes de três a cinco pessoas.
A primeira fase do torneio aconteceu antes dos 'Physics Fights', para a seleção das equipes inscritas. Consistiu no envio de relatórios de cinco dos problemas propostos, sendo o critério de avaliação a qualidade dos relatórios enviados. E, neste ano, foram selecionadas dez equipes para o torneio, organizadas de tal maneira que cada uma participasse de pelo menos três 'Physics Fights'.
Um 'Physics Fight' se trata de um conjunto de três rodadas de disputa, e delas participam três equipes, cada uma com uma das funções de Relator, Oponente e Avaliador. Ao final da terceira rodada, as equipes terão passado por todas as funções.
E essas rodadas funcionam mais ou menos assim: a Equipe Relatora apresenta sua resolução de um problema, expondo suas principais idéias. A Equipe Oponente questiona a o que foi apresentado, e depois, as duas equipes discutem pontos importantes e que talvez não foram mencionados na apresentação. Por fim, a Equipe Avaliadora aponta os pontos positivos e negativos do desempenho das outras equipes.
Ao fim da realização dos 'Physics Fights', foi feita um levantamento da pontuação de cada equipe, e então nomeadas as três de maior pontuação para um 'Physics Fight' final. E, com muita alegria, minha equipe ficou entre essas três finalistas.
Quando aceitei o convite do meu amigo no início do ano, a idéia que eu tive foi de ajudar as pessoas que integrariam a minha equipe em pesquisas, e só. Eu não sabia bem o que esperar do torneio, e sempre fui tímida para apresentar trabalhos e falar em público, mas as coisas saíram de um jeito diferente daquele que planejei.
E pesquisei muito! Tive que ir além do conhecimento eu tinha para chegar na versão final da resolução do que problema que fiquei responsável por resolver. Foi inevitável criar um certo apego pelo meu trabalho durante a época das pesquisas. Simplesmente adorei escrever o relatório e preparar a apresentação, e percebi que quanto mais eu me dedicasse, melhor o trabalho ficaria. Gostei tanto que acabei nem considerando a idéia de pedir que outra pessoa apresentasse em meu lugar.
Entretanto, como eu estava em um grupo, não fiz tudo sozinha. Enquanto o meu trabalho avançava a cada semana, o dos meus colegas também melhorava, passava por transformações. Ajudamos muito uns aos outros pesquisando e opinando - crescemos juntos. No final das contas, talvez seja esse o grande desafio do torneio: o de trabalhar e se organizar em equipe.
Fiquei muito nervosa no 'Physics Fight' em que tive que apresentar o que eu preparei, e, sinceramente, não foi uma apresentação perfeita. Mas fiquei satisfeita por conseguir passar para as pessoas pelo menos um pouco do que eu fiz.
Todas as olimpíadas científicas são desafiadoras, mas, na minha opinião, nada se compara ao IYPT. O processo de estudo e pesquisa é fundamental, mas, nesse torneio, ele é insuficiente se outras habilidades não estiverem presentes, como as de trabalhar em equipe e expressar o que você sabe. Se o participante já possui esses talentos, muito bem. Caso o contrário, é possível que eles sejam desenvolvidos. Talvez com muito esforço, mas é possível.
No fim do torneio, minha equipe ficou em terceiro lugar. Nós e a equipe que ficou em segundo levamos medalha de prata para casa. O vencedor, obviamente, levou ouro, mas também houve medalhas de bronze e menções honrosas para outras equipes.
Bem, e agora? Felizmente, parece que o torneio vai continuar. Segundo o site do torneio nacional, as incrições para a edição de 2011 começam em outubro. E o legal é que, também segundo o site, o Brasil poderá enviar uma equipe representante para a edição internacional em 2011 ou 2012. Vamos torcer para que dê certo!

Escrito por Mayra Maldjian às 15h26
30/09/2010

Embriaguez, alienação e sobriedade


Por Marcia Shimabukuro
Vivemos uma geração em que "tomar um porre" é sinônimo de status. Vi, durante os três últimos anos, amigos que antes eram totalmente contrários ao exagero etílico tornarem-se verdadeiros bebuns. Uma pena. Eles acreditam que a bebida é a desculpa para se tornar quem eles não tem coragem de ser sóbrios. Ficam mais "alegres", sentem-se poderosos, sem limites, porém, esquecem-se de metade das coisas que ocorreram na noite anterior. Pergunto-me qual seria o grande trunfo de viver dessa maneira.
Será que a influência vem da mídia? Comerciais mostram que consumir cerveja atrai mulheres lindas e momentos agradáveis. Somos manipulados por propagandas? Em partes. De certa forma, a ideia daquela felicidade que nos é vendida gera a ansiedade de conquistá-la por meio da bebida. Mas todos sabemos que felicidade não se compra. A impressão que tenho é a de um hábito intrínseco à passagem para a maturidade, como se a bebida fosse um passaporte à vida adulta. Serei direta: não é. A responsabilidade é o que diferencia as fases da vida, e ser independente é muito mais do que comprar uma garrafa de vodka sem precisar mostrar a identidade.
Cada vez mais novos, somos postos em um mundo de loucura e repressão. As algemas atadas são falsamente libertadas quando o álcool passa a atuar na mente. É tudo mera ilusão. Os problemas continuam, a vida permanece a mesma. A diferença é que, por algumas horas, você é que se aliena. Você é que perde a percepção da realidade. Você é que deixa de vivenciar o que existe de fato para fantasiar.
Vale a pena? Embriaguez, alienação, ou sobriedade... Você pode viver da maneira que quiser, é só uma questão de escolha. No entanto, não se esqueça que para cada escolha, haverá uma consequência, uma renúncia e talvez, o arrependimento.

Escrito por Mayra Maldjian às 17h30

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