sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

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Vulnerabilidade social e risco ambiental caminham juntos na maioria dos casos

Por Carolina Octaviano
27/01/2011
A tragédia ocasionada pelas chuvas na região serrana do Rio de Janeiro, amplamente divulgada pela mídia nas últimas semanas, expôs a forte correlação entre a questão social e a fragilidade ambiental. Embora todas as classes sociais tenham sido atingidas pela catástrofe, as famílias com poder aquisitivo mais baixo foram as que mais sofreram, por estarem em regiões mais vulneráveis e de maior risco. “Mesmo sem uma análise pormenorizada, parece haver uma sobreposição espacial entre áreas de risco e populações de menor nível sócio econômico nas áreas atingidas”, afirma Ruy Cartier, da Fundação Oswaldo Cruz e autor da dissertação de mestrado “Vulnerabilidade social e risco ambiental: uma abordagem metodológica para avaliação de injustiça ambiental”.
FONTE: http://www.comciencia.br/comciencia/?section=3&noticia=674
Para realizar o estudo, foram analisados indicadores socioeconômicos e de infra-estrutura urbana, correlacionando-os com o Distrito Industrial Fazenda Botafogo, localizado na cidade do Rio de Janeiro, que é considerada uma área de fragilidade ambiental. “A pesquisa forneceu evidências de que existe uma grande correlação entre vulnerabilidade social e vulnerabilidade ambiental, ou seja, o que podemos perceber é que tende a existir uma sobreposição espacial entre áreas socialmente vulneráveis e áreas ambientalmente vulneráveis. O estudo aponta que tende a existir uma forte correlação entre a presença de grupos sociais vulneráveis e áreas vulneráveis do ponto de vista ambiental, sendo estas, freqüentemente, espaços de moradia mais desvalorizados”, confirma.

De acordo com Cartier, estas famílias, por pertencerem a classes baixas, não tem recursos ou o poder aquisitivo necessário para adquirir moradias em locais adequados. E, para ele, “além disso, a discussão da vulnerabilidade social e ambiental coloca a questão da qualidade de vida urbana como primordial no debate sobre alternativas para se conceber e orientar práticas institucionais eficazes no controle ambiental e na implementação de políticas públicas adequadas, conformando uma cidade mais justa ambientalmente e socialmente”, explica. Ele acredita que sua pesquisa serve para evidenciar uma situação de extrema desigualdade, que pode ser encontrada na sociedade atualmente, deixando claro que os estudos que tratam de informações geográficas podem dar suporte para ações e decisões do poder público, mesmo que essas ferramentas estejam subordinadas aos interesses e posicionamentos políticos.

Cartier lembra ainda que não se pode afirmar, generalizando, que populações carentes residem necessariamente em áreas que apresentam fragilidade ambiental ou que as populações de classes mais ricas vivam sempre em áreas que não oferecem riscos. “Contudo, na realidade brasileira, verificamos que existe uma tendência de que os grupos vulneráveis socialmente vivam em áreas de risco e que estes enfrentam as iniqüidades ambientais justamente pelo fato de possuírem capacidades limitadas de rejeitar a imposição de tais riscos”, complementa.

Para ele, a falta de informação das famílias frente aos riscos é um fator que torna a fragilidade ainda maior. “O que deve ser evidenciado é que, na maioria das vezes, estas famílias possuem pouca ou quase nenhuma alternativa frente ao risco e, mesmo com o conhecimento do risco, a sua capacidade de reação continua limitada. Tal capacidade é ampliada quando observamos populações com maior poder aquisitivo. Estas, ao descobrirem que moram em áreas de risco, estão mais aptas a procurar outro imóvel em um local mais seguro devido a sua condição econômica”, conclui o pesquisador.

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