sexta-feira, 10 de setembro de 2010

PARA REFLETIR

EDITORIAL JORNAL DIÁRIO DO NORDESTE

Água escassa


9/9/2010
O Nordeste brasileiro, a cada dia, acentua as disparidades entre as suas regiões geoeconômicas. Embora seus nove Estados estejam arrolados como integrantes do Polígono das Secas, nem todos os espaços territoriais enfrentam as consequências das estiagens prolongadas como a deste ano. Ainda assim, até nas faixas litorâneas, em raio equidistante 50 quilômetros de Fortaleza, o lençol freático começa a baixar de nível, escasseando a água.

No decorrer do último século de atuação regional, o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) construiu uma obra ciclópica, representada por 320 grandes reservatórios, com capacidade para acumulação de mais de 20 bilhões de metros cúbicos d´água. Mas nem todos esses açudes públicos conseguiram interligar-se às áreas mais carentes, as zonas rurais, por meio de adutoras. Em muitos casos, as comunidades sertanejas de seu entorno não têm água para consumo.

Há muito, o Dnocs sofre um processo continuado de esvaziamento técnico, político, administrativo e de intervenção nos problemas relacionados com as secas periódicas, com a adoção das ações capazes de minorar o sofrimento das camadas mais afetadas pela falta de água potável principalmente. Essa mudança de diretriz acentuou-se quando suas tarefas começaram a ser compartilhadas com a Agência Nacional de Águas e as Secretarias de Recursos Hídricos dos Estados. A descentralização mudou o foco de sua macropolítica.

Os perímetros irrigados não estariam mais voltados para o público-alvo para o qual foram concebidos, em razão da ausência de infraestrutura que promova a organização social dos colonos, fixe o programa de estímulo à produção irrigada e transforme a economia agrícola baseada em práticas arcaicas. O retorno resultante do expressivo investimento realizado pelo governo federal em diversas bases físicas, como os perímetros de Morada Nova e de Icó, estaria aquém da revolução agrícola sonhada para essas experiências.

O semiárido, a parte mais afetada pelas estiagens, abriga 20 milhões de nordestinos, 9 milhões dos quais fixados nas áreas rurais. A população urbana, em mais de 80%, vem sendo suprida por água potável. A questão crucial volta-se para os guetos rurais, onde a energia elétrica começa a chegar primeiro do que as adutoras. Além da falta d´água de qualidade, o campo ressente-se, também, de moradias salubres em condições de eliminar os focos de doenças originadas na pobreza, como a transmitida pelo barbeiro.

No País, 1.592 m³ de água são consumidos por segundo. Mesmo sendo detentor da segunda maior reserva d´ água doce do Planeta, precisa ser desenvolvido esforço excepcional para cumprir, até 2015, a meta do milênio de universalizar o abastecimento público de água tratada. Começando por eliminar o desperdício de 751 m³ por segundo.

A melhoria da qualidade da água, proporcionada pelas cisternas de placa, esbarra na ausência de chuvas. Os próximos gestores públicos têm pela frente o grave desafio de enfrentar o saneamento básico - água tratada, coleta de esgoto e tratamento do lixo - como prioridade inadiável.

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