Artigo
O outro lado do pré-sal
João Alfredo Telles Melo
30 Set 2009 - 02h14min
No momento em que o Congresso Nacional discute os projetos referentes ao marco regulatório do pré-sal, se faz necessário fugir do lugar-comum do ufanismo dominante e debater as implicações ambientais desse tipo de exploração.
Primeiro, é importante saber que, por ser uma formação mais profunda e antiga, a concentração de CO2 (principal gás de efeito-estufa) pode ser entre 3 e 4 vezes superior à dos campos do pós-sal. Assim, supondo reservas de 80 barris e considerando as altas concentrações de CO2 dos poços do pré-sal, se o nosso país utilizar o combustível em um período de 40 anos, teremos uma liberação anual de 1,3 bilhão de toneladas equivalentes de carbono, ou seja, o dobro das atuais emissões do país (o que pode nos colocar no topo dos países mais poluentes do planeta).
O mais grave é que parece não haver ainda métodos disponíveis no mundo para evitar que a exploração do pré-sal venha a poluir ainda mais o planeta. Há, inclusive, controvérsias quanto ao custo de captura do CO2, que pode variar de 10 a 100 dólares por tonelada, segundo o Greenpeace. Pela previsão mais conservadora, a emissão potencial de 18 bilhões de toneladas de CO2 do pré-sal pode levar esse custo a mais de 100 bilhões de dólares, valor próximo ao investimento que a Petrobras planeja para o pré-sal até 2020.
Ora, se quisermos evitar que a temperatura média do planeta se eleve acima de 2°C até o fim do século XXI, não poderemos queimar mais do que um quarto das reservas descobertas de petróleo no mundo. Por outro lado, o pré-sal só entrará em ritmo comercial entre o meio e o fim da próxima década, provavelmente em uma época em que as restrições sobre as emissões de CO2 serão muito maiores e a difusão de outras formas de energia e a redução do consumo de petróleo também.
Lamentavelmente, o que está ocorrendo já, neste momento, é que os trabalhos legislativos da comissão especial de energias renováveis têm sido atrasados por conta da tramitação dos projetos de lei do pré-sal. Em termos de investimentos, ainda que as receitas do pré-sal possam vir a auxiliar o desenvolvimento de pesquisas e subsidiar as energias limpas, os gastos com a exploração do óleo e, posteriormente, com a captura de carbono, poderão vir a comprometer os investimentos nacionais em renováveis. A descoberta do pré-sal está levando a uma aposta ainda maior na matriz suja, vide o anúncio do Ministério de Minas e Energia de propor o diesel em carros de passeio.
O investimento no petróleo do pré-sal - em tempos de aquecimento global e mudanças climáticas -, pode vir a ser um atraso, em um país que, rico em mega-diversidade e com um potencial fantástico em energias limpas (como a solar, a eólica e a de biomassa), deveria estar na vanguarda da nova economia pós-carbono, que se faz necessária e urgente para a manutenção da vida em nosso planeta.
João Alfredo Telles Melo - Vereador de Fortaleza/PSOL. Professor de Direito Ambiental e ex-consultor de Políticas Públicas do Greenpeace Brasil
Primeiro, é importante saber que, por ser uma formação mais profunda e antiga, a concentração de CO2 (principal gás de efeito-estufa) pode ser entre 3 e 4 vezes superior à dos campos do pós-sal. Assim, supondo reservas de 80 barris e considerando as altas concentrações de CO2 dos poços do pré-sal, se o nosso país utilizar o combustível em um período de 40 anos, teremos uma liberação anual de 1,3 bilhão de toneladas equivalentes de carbono, ou seja, o dobro das atuais emissões do país (o que pode nos colocar no topo dos países mais poluentes do planeta).
O mais grave é que parece não haver ainda métodos disponíveis no mundo para evitar que a exploração do pré-sal venha a poluir ainda mais o planeta. Há, inclusive, controvérsias quanto ao custo de captura do CO2, que pode variar de 10 a 100 dólares por tonelada, segundo o Greenpeace. Pela previsão mais conservadora, a emissão potencial de 18 bilhões de toneladas de CO2 do pré-sal pode levar esse custo a mais de 100 bilhões de dólares, valor próximo ao investimento que a Petrobras planeja para o pré-sal até 2020.
Ora, se quisermos evitar que a temperatura média do planeta se eleve acima de 2°C até o fim do século XXI, não poderemos queimar mais do que um quarto das reservas descobertas de petróleo no mundo. Por outro lado, o pré-sal só entrará em ritmo comercial entre o meio e o fim da próxima década, provavelmente em uma época em que as restrições sobre as emissões de CO2 serão muito maiores e a difusão de outras formas de energia e a redução do consumo de petróleo também.
Lamentavelmente, o que está ocorrendo já, neste momento, é que os trabalhos legislativos da comissão especial de energias renováveis têm sido atrasados por conta da tramitação dos projetos de lei do pré-sal. Em termos de investimentos, ainda que as receitas do pré-sal possam vir a auxiliar o desenvolvimento de pesquisas e subsidiar as energias limpas, os gastos com a exploração do óleo e, posteriormente, com a captura de carbono, poderão vir a comprometer os investimentos nacionais em renováveis. A descoberta do pré-sal está levando a uma aposta ainda maior na matriz suja, vide o anúncio do Ministério de Minas e Energia de propor o diesel em carros de passeio.
O investimento no petróleo do pré-sal - em tempos de aquecimento global e mudanças climáticas -, pode vir a ser um atraso, em um país que, rico em mega-diversidade e com um potencial fantástico em energias limpas (como a solar, a eólica e a de biomassa), deveria estar na vanguarda da nova economia pós-carbono, que se faz necessária e urgente para a manutenção da vida em nosso planeta.
João Alfredo Telles Melo - Vereador de Fortaleza/PSOL. Professor de Direito Ambiental e ex-consultor de Políticas Públicas do Greenpeace Brasil
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