quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

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4/02/2012

Estudo mostra associação entre uso de agrotóxicos e doenças neurológicas
Investigação foi feita com trabalhadores rurais do Sul do país.
Agência Notisa – Os agrotóxicos estão presentes na vida diária de milhões de trabalhadores do campo. No entanto, seu uso indevido contribui para a degradação ambiental, além de ser frequente a ocorrência de intoxicações, constituindo um dos principais problemas de saúde pública no meio rural brasileiro. Este é o alerta que o faz o estudo “Avaliação do impacto da exposição a agrotóxicos sobre a saúde de população rural. Vale do Taquari (RS, Brasil)”, publicado em agosto de 2011 na revistaCiência & Saúde Coletiva.
O estudo analisou a possível associação entre contato com agrotóxicos e a prevalência de doenças crônicas na população rural do Vale do Taquari, importante zona agrícola do Rio Grande do Sul. Aautoria é de Iraci Lucena da Silva Torres, professora do departamento de Farmacologia da UFRGS e colegas do Centro Universitário Univates e da Universidade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre.
Segundo a pesquisa, o Brasil é o terceiro mercado e o oitavo maior consumidor de agrotóxicos por hectare do mundo, sendo herbicidas e inseticidas responsáveis por 60% dos produtos comercializados no país. “Três são as principais vias responsáveis pelo impacto direto da contaminação humana: a ocupacional, que se caracteriza pela contaminação dos trabalhadores que manipulam essas substâncias; a ambiental, que ocorre por meio de dispersão/distribuição dos agrotóxicos ao longo dos diversos componentes do meio ambiente; e a alimentar que se dá pela contaminação relacionada à ingestão de produtos contaminados por agrotóxicos”, explicam os autores no artigo.
Os pesquisadores entrevistaram 298 pessoas. Destas, 68,4% informaram utilizar agrotóxicos. Os resultados mostram uma associação entre o contato com agrotóxicos e o relato de doenças neurológicas e também síndromes dolorosas.
“Indivíduos com contato com agrotóxicos apresentaram 2,5 vezes mais chances de relatar doenças neurológicas e 2 vezes mais chances de relatarem síndromes dolorosas do que os sem contato. Agrotóxicos de vários grupos, como organofosforados, carbamatos, organoclorados, piretroides e outros, se associam a efeitos neurológicos agudos com exposições a altas doses”, explicam os autores.
Eles também contam que podem haver sequelas tanto sensitivas quanto motoras, além de deficiências cognitivas transitórias ou permanentes. E destacam a possível inter-relação entre a exposição crônica a agrotóxicos e o desenvolvimento de doenças degenerativas do sistema nervoso central.
“Em estudo realizado em Nova Friburgo (RJ), verificaram respostas alteradas ao exame neurológico periférico do sistema motor e sensitivo em uma amostra de 102 pequenos agricultores, de ambos os sexos, sugerindo neuropatia tóxica, com provável degeneração axonal”, dizem na pesquisa.
O estudo realizado na região Sul do país também observou associação significativa entre o contato com agrotóxicos e o relato de doenças orais. Quanto a estas últimas, nenhum dos indivíduos sem contato relatou a sua presença, enquanto 3,7% dos com contato apresentavam-nas.
Segundo a pesquisa, a exposição ocupacional a pesticidas tem sido relacionada a outros efeitos prejudiciais à saúde, incluindo doenças que afetam pele, olhos e trato respiratório, podendo levar à morte. “Intoxicações por agrotóxicos são frequentes entre os agricultores, determinando, por vezes, a proibição médica do trabalho na lavoura e a orientação para outro tipo de atividade profissional”, alertam os autores.
O estudo ainda mostrou correlação entre exposição a agrotóxicos e artrite, o que, segundo os autores, reforça achados anteriores. “Os resultados aqui obtidos corroboram os de pesquisas anteriores e demonstram que é fundamental incentivar o conhecimento pormenorizado dos efeitos agudos e crônicos e que se estimulem de forma prioritária as restrições ao uso de agrotóxicos pelos riscos que oferecem. Deve-se considerar também que muitos dos efeitos dos pesticidas permanecem no organismo por longo período mesmo após a suspensão da exposição ao agente. Esse efeito é decorrente da meia-vida longa, da existência de metabólitos ativos e de sua alta lipossolubilidade que leva a depósito em tecido adiposo.
Outro dado que a pesquisa traz é a associação entre relato de doenças na família e exposição a agrotóxicos. Observou-se que 70,1% dos indivíduos com contato relataram doenças na família, enquanto essa frequência foi de 55,3% entre os sem contato.
“Tais resultados confirmam que, em pequenas comunidades agrícolas, como é o caso da presente amostra, frequentemente a agricultura é uma atividade familiar, todos participam de alguma forma do processo de plantio, da adubagem, do combate às pragas e da colheita, tornando-os suscetíveis aos malefícios da exposição crônica a agrotóxicos”, consideram os pesquisadores.



Agência Notisa (science journalism – jornalismo científico)

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